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Lucas

1

Evangelho Segundo Lucas

1 Como muitos empreenderam pôr em ordem o relato das coisas que entre nós se cumpriram, 2 conforme os que as viram que desde o princípio, e foram servidores das palavra, nos transmitiram, 3 pareceu-me bom que também eu, que tenho me informado com exatidão desde o princípio, escrevesse-as em ordem a ti, caríssimo Teófilo, 4 para que conheças a certeza das coisas de que foste ensinado.

5 Houve nos dias de Herodes, rei da Judeia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias; sua mulher das filhas de Arão, e o seu nome era Isabel. 6 E ambos eram justos diante de Deus; andavam sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 7 Mas não tinham filho, porque Isabel era estéril, e ambos tinham idade avançada.

8 E aconteceu que, quando ele fazia o trabalho sacerdotal diante de Deus, na ordem da sua turma, 9 conforme o costume do sacerdócio, foi sorteado a entrar no santuário do Senhor para oferecer o incenso. 10 E toda a multidão do povo estava fora orando, à hora do incenso.

11 Então um anjo do Senhor lhe apareceu em pé, à direita do altar do incenso. 12 Quando Zacarias o viu, perturbou-se, e o medo o tomou. 13 Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, pois a tua oração foi ouvida. E Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João.

14 E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão do seu nascimento; 15 pois ele será grande diante do Senhor, e não beberá vinho nem bebida alcoólica, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre da sua mãe.

16 E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus. 17 E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos; a fim de preparar um povo pronto ao Senhor.

18 Então Zacarias disse ao anjo: Como terei certeza disso? Pois sou velho, e a minha mulher de idade avançada. 19 O anjo lhe respondeu: Eu sou Gabriel, que fico presente diante de Deus, e fui enviado para te falar e te dar estas boas notícias. 20 Eis que ficarás mudo, e não poderás falar até o dia em que essas coisas aconteçam, porque não creste nas minhas palavras, que se cumprirão no devido tempo.

21 E o povo estava esperando Zacarias, e se surpreenderam de que ele demorava no santuário. 22 Quando ele saiu, não conseguia lhes falar; e entenderam que havia tido alguma visão no santuário. Ele lhes fazia gestos, e continuou mudo. 23 E sucedeu que, terminados os dias do seu serviço, voltou à sua casa.

24 E depois daqueles dias Isabel, sua mulher, Isabel, engravidou-se, e por cinco meses se escondeu, dizendo: 25 Pois isto o Senhor me fez nos dias em que ele me olhou, para acabar a minha humilhação entre as pessoas.

26 E no sexto mês o anjo Gabriel foi enviado da parte de Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27 a uma virgem prometida em casamento com um homem chamado José, da descendência de Davi; e o nome da virgem era Maria. 28 O anjo entrou onde ela estava, e disse: Alegra-te, agraciada; o Senhor é contigo. 29 Ela perturbou-se muito por essas palavras, e se perguntava que saudação seria esta.

30 Então o anjo lhe disse: Maria, não temas, porque encontraste graça diante de Deus. 31 E eis que em teu ventre conceberás, darás à luz um filho, e chamarás o seu nome de Jesus. 32 Ele será grande, e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu ancestral. 33 E reinará eternamente na casa de Jacó; o seu reino não terá fim.

34 Maria disse ao anjo: Como será isso? Pois não conheço intimamente homem algum. 35 O anjo lhe respondeu: O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que nascerá será chamado Filho de Deus.

36 E eis que Isabel, tua prima, também está grávida de um filho na sua velhice; e este é o sexto mês para a que era chamada de estéril. 37 Pois para Deus nada será impossível. 38 Então Maria disse: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim conforme a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.

39 E naqueles dias, Maria levantou-se, e foi apressada à região montanhosa, a uma cidade de Judá. 40 Ela entrou na casa de Zacarias, e cumprimentou Isabel. 41 E aconteceu que, quando Isabel ouviu o cumprimento de Maria, a criança saltou no seu ventre, e Isabel foi cheia do Espírito Santo.

42 Então exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre! 43 Como me acontece isto, que a mãe de meu Senhor venha a mim? 44 Pois eis que, quando a voz do teu cumprimento chegou aos meus ouvidos, a criança saltou de alegria no meu ventre. 45 E bendita a que creu, pois se cumprirão as coisas que do Senhor lhe foram ditas.

46 Então Maria disse: A minha alma engrandece ao Senhor, 47 e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador.

48 Porque ele olhou para a humilde condição da sua serva; pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão bendita. 49 Pois o Poderoso me fez grandes coisas; e santo é o seu nome.

50 E a sua misericórdia é de geração em geração sobre os que o temem. 51 Com o seu braço manifestou poder; dispersou os soberbos no pensamento dos seus corações.

52 Derrubou os poderosos dos tronos, e elevou os humildes. 53 Encheu de bens aos famintos, e despediu vazios os ricos.

54 Auxiliou ao seu servo Israel, lembrando-se da sua misericórdia, 55 como falou aos nossos ancestrais, a Abraão, e à sua descendência, para sempre.

56 Maria esteve com ela por quase três meses; então voltou para sua casa. 57 E completou-se à Isabel o tempo de dar à luz, e teve um filho. 58 Os seus vizinhos e parentes ouviram que o Senhor havia feito a ela grande misericórdia, e alegraram-se com ela.

59 E aconteceu que ao oitavo dia vieram circuncidar o menino, e o chamavam Zacarias, do nome do seu pai. 60 E sua mãe respondeu: Não, porém será chamado João. 61 E disseram-lhe: Ninguém há entre os teus parentes que se chame deste nome.

62 E perguntaram por gestos ao seu pai como queria que lhe chamassem. 63 Ele pediu uma tábua, e escreveu: O seu nome é João. E todos se surpeenderam.

64 E logo a sua boca se abriu, e a sua língua se soltou; e voltou a falar, louvando a Deus. 65 E veio temor sobre todos os seus vizinhos; e em toda a região montanhosa da Judeia todas essas coisas foram divulgadas. 66 E todos os que ouviam, guardavam em seus corações, dizendo: Quem será este menino? Pois também a mão do Senhor estava com ele.

67 E Zacarias, seu pai, foi cheio do Espírito Santo, e profetizou, dizendo: 68 Bendito seja o Senhor Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo.

69 E nos levantou uma poderosa salvação na casa de seu servo Davi, 70 como falou pela boca dos seus santos profetas, desde o princípio do mundo; 71 Que nos livraria dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam,

72 para manifestar misericórdia aos nossos ancestrais, e se lembrar do seu santo pacto, 73 do juramento que fez a Abraão, nosso ancestral; 74 de nos conceder que, libertos da mão dos inimigos, o serviríamos sem temor, 75 em santidade e justiça diante dele, todos os nossos dias.

76 E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo; porque irás adiante da face do Senhor, para preparar os seus caminhos, 77 para dar a seu povo conhecimento da salvação, na remissão de seus pecados;

78 por causa da misericórdia do nosso Deus, com que o nascer do sol nos visitará; 79 para iluminar os que estão sentados nas trevas e sombra de morte; a fim de guiar os nossos pés pelo caminho da paz.

80 E o menino crescia e se fortalecia em espírito. E esteve nos desertos até o dia em que se mostrou a Israel.

2

1 E aconteceu naqueles dias que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo a terra se registrasse. 2 (Esse primeiro censo foi feito quando Quirino era o governador da Síria.) 3 E todos foram se registrar, cada um à sua própria cidade.

4 E José também subiu da Galileia, da cidade de Nazaré à Judeia, à cidade de Davi, que se chama Belém; (porque ele era da casa e família de Davi.) 5 Para se registrar com Maria, com ele prometida em casamento, que estava grávida.

6 E aconteceu que, enquanto eles ali, completaram-se os dias em que ela havia de dar à luz. 7 E deu à luz seu filho primogênito, e o envolveu em panos, e o deitou numa manjedoura; porque não havia lugar para eles na hospedaria.

8 E naquela mesma localidade havia pastores que estavam no campo, e vigiavam o seu rebanho durante as vigílias da noite. 9 E um anjo do Senhor lhe apareceu, e a glória do Senhor os cercou de resplendor. Então tiveram grande temor.

10 E o anjo lhes disse: Não temais; pois eis que vos dou notícias de grande alegria, que será para todo o povo: 11 que hoje na cidade de Davi vos nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. 12 E isto vos será por sinal: achareis o menino envolto em panos, deitado numa manjedoura.

13 E no mesmo instante apareceu com o anjo uma multidão de exércitos celestiais, louvando a Deus, e dizendo: 14 Glória nas alturas a Deus, paz na terra aos seres humanos de quem ele se agrada.

15 E aconteceu que, quando os anjos se ausentaram deles para o céu, os pastores disseram uns aos outros: Vamos, pois, até Belém, e vejamos isso que aconteceu, e o Senhor nos informou. 16 Então foram apressadamente, e acharam Maria, e José, e o menino deitado na manjedoura.

17 Quando o viram, contaram o que lhes havia sido dito sobre o menino. 18 E todos os que ouviram se admiraram com o que os pastores lhes diziam. 19 Mas Maria guardava todas essas palavras, considerando -as no seu coração. 20 Os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo o que haviam ouvido e visto, como lhes havia sido dito.

21 Quando se completaram os oito dias para circuncidá-lo, foi chamado o seu nome Jesus, o qual havia sido posto pelo anjo antes que fosse concebido.

22 E quando se completaram os dias da purificação deles, segundo a Lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor, 23 conforme o que está escrito na Lei do Senhor: Todo macho primogênito será consagrado ao Senhor. 24 E para darem a oferta segundo o que se diz na Lei do Senhor: um par de rolinhas ou dois pombinhos.

25 E eis que havia em Jerusalém um homem de nome Simeão; e esse homem era justo e devoto, e esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. 26 E havia lhe sido revelado pelo Espírito Santo que ele não veria a morte antes de ter visto o Cristo do Senhor.

27 E pelo Espírito foi ao Templo; e quando os pais trouxeram o menino Jesus, para fazerem com ele conforme o costume da Lei, 28 Então ele o tomou em seus braços, louvou a Deus, e disse: 29 Agora, Senhor, despedes o teu servo em paz, conforme a tua palavra,

30 pois os meus olhos viram a tua salvação, 31 a qual preparaste diante de todos os povos; 32 Luz para iluminar as gentios, e para a glória do teu povo Israel.

33 E seu pai e sua mãe se admiraram das coisas que se diziam sobre ele. 34 Simeão os abençoou, e disse a Maria, sua mãe: Eis que este é posto para queda e levantamento de muitos em Israel; e para sinal que terá oposição, 35 (também uma espada atravessará a tua própria alma) para que os pensamentos de muitos corações se manifestem.

36 E estava ali a profetiza Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela já tinha idade avançada, e havia vivido com o marido sete anos desde sua virgindade. 37 E era viúva até os oitenta e quatro anos, e não se afastava do Templo, servindo a Deus com jejuns e orações, de noite e de dia. 38 E ela veio na mesma hora; ela agradeci a Deus, e falava dele a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.

39 E quando acabaram de cumprir tudo, segundo a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para a sua cidade de Nazaré. 40 E o menino crescia e se fortalecia, e cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele.

41 Todos os anos, seus pais iam a Jerusalém, para a festa da Páscoa. 42 E quando Jesus tinha doze anos, subiram, conforme o costume do festival; 43 E quando aqueles dias terminaram, eles partiram de volta, mas o menino Jesus ficou em Jerusalém sem que seus pais soubessem. 44 Porém, como pensavam que ele vinha pelo caminho entre os companheiros de viagem, eles andaram o caminho de um dia; e o procuraram entre os parentes e conhecidos.

45 E como não o acharam, voltaram a Jerusalém em busca dele. 46 E aconteceu que, três dias depois, o acharam no templo, sentado no meio dos mestres, ouvindo-os, e perguntando-lhes. 47 E todos os que o ouviam admiravam a sua inteligência e respostas;

48 Quando eles o viram, ficarm surpresos. E sua mãe lhe disse: Filho, por que fizeste assim conosco? Eis que teu pai e eu com ansiedade te procurávamos. 49 Ele lhes disse: Por que me procuráveis? Não sabeis que devo estar nos negócios de meu Pai? 50 E eles não entenderam as palavras que lhes dizia.

51 Então desceu com eles, e veio a Nazaré, e os obedecia. E a sua mãe guardava todas essas coisas no seu coração. 52 Jesus crescia em sabedoria, em estatura, e em graça para com Deus e as pessoas.

3

1 No ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos o governador da Judeia, Herodes tetraca da Galileia, e seu irmão Filipe o tetrarca da Itureia e da província de Traconites, e Lisânias o tetrarca de Abilene; 2 sendo Anás e Caifás os sumos sacerdotes, a palavra de Deus veio a João, filho de Zacarias, no deserto.

3 Ele percorreu toda a região ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento, para o perdão dos pecados;

4 conforme o que está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.

5 Todo vale se encherá, e todo monte e colina se abaixará; os tortos serão endireitados, e os caminhos ásperos se suavizarão; 6 e todos verão a salvação de Deus.”

7 João dizia às multidões que vinham ser batizadas por ele: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para chegar?

8 Dai, pois, frutos condizentes com o arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: ‘Temos Abraão por pai’; pois eu vos digo que até destas pedras Deus pode produzir filhos a Abraão.

9 E também o machado já está posto à raiz das árvores; portanto, toda árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo.

10 E as multidões lhe perguntavam: Então o que devemos fazer? 11 E ele lhes respondeu: Quem tiver duas túnicas, reparta com o não tem; e quem tiver comida, faça da mesma maneira.

12 E chegaram também uns cobradores de impostos, para serem batizados; e disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer? 13 E ele lhes disse: Não exijais mais do que vos está ordenado.

14 E uns soldados também lhe perguntaram: E nós, que devemos fazer? E ele lhes disse: Não maltrateis nem defraudeis a ninguém; e contentai-vos com vossos salários.

15 E, enquanto o povo estava em expectativa, e todos pensando em seus corações se talvez João seria o Cristo, 16 João respondeu a todos: De fato, eu vos batizo com água, mas vem um que é mais poderoso do que eu, de quem eu não sou digno de desatar a tira das sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.

17 Sua pá está na sua mão para limpar sua eira, e para juntar o trigo no seu celeiro; porém queimará a palha com fogo que nunca se apaga.

18 Assim, exortando com muitas outras coisas, João anunciava a boa notícia ao povo. 19 Porém, quando Herodes, o tetrarca, foi repreendido por ele por causa de Herodias, mulher do seu irmão, e por todas as maldades que Herodes havia feito, 20 acrescentou a todas ainda esta: encarcerou João na prisão.

21 E aconteceu que, quando todo o povo era batizado, Jesus também foi batizado, e enquanto orava, o céu se abriu, 22 e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba; e veio do céu uma voz: Tu és o meu Filho amado, em ti me agrado.

23 E o mesmo Jesus começou quando tinha cerca de trinta anos, sendo (como se pensava) filho de José, filho de Eli, 24 filho de Matate, filho de Levi, filho de Melqui, filho de Janai, filho de José.

25 filho de Matatias, filho de Amós, filho de Naum, filho de Esli, filho de Nagai. 26 filho de Maate, filho de Matatias, filho de Semei, filho de Joseque, filho de Jodá.

27 filho de Joanã, filho de Resa, filho de Zorobabel, e filho de Salatiel, filho de Neri. 28 filho de Melqui, filho de Adi, e filho de Cosã, filho de Elmodã, filho de Er. 29 filho de Josué, filho de Eliézer, filho de Jorim, filho de Matate, filho de Levi.

30 filho de Simeão, filho de Judá, filho de José, filho de Jonã, filho de Eliaquim. 31 filho de Meleá, filho de Mená, filho de Matatá, filho de Natã, filho de Davi. 32 Filho de Jessé, filho de Obede, filho de Boaz, filho de Salá, filho de Naassom.

33 Filho de Aminadabe, filho de Admin, filho de Arni, filho de Esrom, filho de Peres, filho de Judá. 34 filho de Jacó, filho de Isaque, filho de Abraão, filho de Terá, filho de Naor. 35 filho de Serugue, filho de Ragaú, filho de Faleque, filho de Éber, filho de Salá.

36 Filho de Cainã, filho de Arfaxade, filho de Sem, filho de Noé, filho de Lameque. 37 Filho de Matusalém, filho de Enoque, filho de Jarede, filho de Maleleel, filho de Cainã. 38 filho de Enos, filho de Sete, filho de Adão, e Adão de Deus.

4

1 E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão, e foi levado pelo Espírito no deserto. 2 E por quarenta dias foi tentado pelo diabo; e não comeu coisa alguma naqueles dias; e terminados eles, teve fome.

3 Então o diabo lhe disse: Se tu és Filho de Deus, diz a esta pedra que se transforme em pão. 4 Jesus lhe respondeu: Está escrito que não só de pão viverá o ser humano.

5 E o diabo o levou a um lugar alto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo num instante. 6 E o diabo lhe disse: Darei a ti todo este poder e sua glória; pois a mim foram entregues, e os dou a quem quero. 7 Portanto, se tu me adorares, tudo será teu.

8 E Jesus lhe respondeu: Está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus, e servirás só a ele.

9 Então o levou a Jerusalém, e o pôs sobre a parte mais alta do templo, e disse-lhe: Se tu és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo. 10 Porque está escrito que: Mandará aos seus acerca de ti que te guardem. 11 E que: te sustentarão pelas mãos, para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra.

12 Jesus lhe respondeu: Dito está: Não tentes ao Senhor teu Deus. 13 E quando o diabo acabou toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo.

14 Então Jesus, no poder do Espírito, voltou para a Galileia, e sua fama se espalhou por toda a região ao redor. 15 Ele ensinava em suas sinagogas, e era recebido com honra por todos.

16 Ele veio a Nazaré, onde havia sido criado, e entrou, conforme o seu costume, num dia de Sábado, na sinagoga; e levantou-se para ler. 17 Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e quando abriu o livro, achou o lugar onde estava escrito:

18 O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres, me enviou 19 para proclamar liberdade aos cativos e dar vista aos cegos, para enviar livres os oprimidos, para proclamar o ano agradável do Senhor.

20 Ele fechou o livro, e devolveu-o ao assistente, e se sentou. Os olhos de todos na sinagoga estavam fixos nele. 21 Então ele começou a lhes dizer: Hoje esta escritura se cumpriu em vossos ouvidos. 22 E todos davam testemunho dele, e se admiravam das palavras graciosas que saíam da sua boca; e diziam: Não é este o filho de José?

23 E ele lhes disse: Sem dúvida me direis este provérbio: Médico, cura a ti mesmo; faz também aqui na tua terra natal todas as coisas que ouvimos terem sido feitas em Cafarnaum. 24 E disse: Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua terra natal.

25 Porém em verdade vos digo que hava muitas viúvas em Israel nos dias de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, de modo que em todo o país houve grande fome. 26 Mas a nenhuma delas Elias foi enviado, a não ser a uma mulher viúva de Sarepta de Sidom. 27 E havia muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu; mas nenhum deles foi limpo, a não ser Naamã, o sírio.

28 E todos na sinagoga, quando ouviram essas coisas, encheram-se de ira. 29 Então se levantaram, expulsaram-no da cidade, e o levaram até o topo do monte em que sua cidade era construída, para dali o lançarem abaixo. 30 Porém ele passou por meio deles, e se retirou.

31 Ele desceu a Cafarnaum, cidade de Galileia; e ali os ensinava nos sábados. 32 E admiravam o seu ensino, pois a sua palavra era com autoridade.

33 E estava na sinagoga um homem que tinha um espírito de um demônio imundo, e gritou com alta voz: 34 Ah, que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Sei quem és: o Santo de Deus.

35 E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e, sai dele. E o demônio o derrubou no meio do povo, e saiu dele sem lhe fazer dano algum. 36 E espanto veio sobre todos; e falavam entre si uns aos outros, dizendo: Que palavra é esta, que até aos espíritos imundos ele manda com autoridade e poder, e eles saem? 37 E sua fama era divulgada em todos os lugares em redor daquela região.

38 Jesus levantou-se da sinagoga, e entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava doente de uma grande febre, e rogaram-lhe por ela. 39 Ele se inclinou a ela, e repreendeu a febre, que a deixou. Ela imediatamente se levantou e começou a lhes servir.

40 Quando o sol estava se pondo, troxeram-lhe todos os que estavam enfermos de varias doenças. Ele punha as mãos sobre cada um deles e os curava. 41 E também de muitos saíam demônios, gritando, e dizendo: Tu és o Filho de Deus. Ele os repreendia, e não os deixava falar, porque sabiam que ele era o Cristo.

42 E sendo já dia, ele saiu, e foi a um lugar deserto. As multidões o buscavam; então vieram a ele, e queriam detê-lo, para que não os deixasse. 43 Porém ele lhes disse: Também é necessário que eu anuncie a outras cidades o evangelho do Reino de Deus; pois para isso fui enviado. 44 E ele pregava nas sinagogas da Judeia.

5

1 E aconteceu que as multidões o comprimiam para ouvir a palavra de Deus, quando ele estava junto ao lago de Genesaré. 2 Então ele viu dois barcos que estavam próximos da margemdo lago, e os pescadores haviam descido deles, e estavam lavando as redes. 3 Ele entrou num daqueles barcos, que era o de Simão, e lhe pediu que o afastasse um pouco da terra. Depois se sentou, e do barco ensinou às multidões.

4 Quando acabou de falar, disse a Simão: Vai à água profunda, e lançai as vossas redes para pescar. 5 Simão respondeu: Mestre, trabalhamos toda a noite, mas nada pegamos; mas pela tua palavra lançarei as redes. 6 Eles fizeram assim, e recolheram grande quantidade de peixes, e suas redes estavam se rompendo. 7 Então acenaram aos companheiros que estavam no outro barco, para que viessem os ajudar. Vieram, e encheram ambos os barcos, de tal maneira que quase afundavam.

8 Quando Simão Pedro viu isso, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador. 9 Pois ele estava cheio de espanto, como todos os que estavam com ele, por causa da coleta de peixes que haviam feito. 10 E semelhantemente, também, Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram colegas de Simão. E Jesus disse a Simão: Não temas, de agora em diante pescarás gente. 11 Eles levaram os barcos para a terra, deixaram tudo, e o seguiram.

12 E aconteceu que, quando ele estava numa daquelas cidades, eis que um homem cheio de lepra viu Jesus; então prostrou-se sobre o rosto, e lhe rogou, dizendo: Senhor, se quiseres, podes me tornar limpo. 13 Ele estendeu a mão, e o tocou, dizendo: Quero; sê limpo. E logo a lepra desapareceu dele.

14 E mandou-lhe que não o dissesse a ninguém: Mas vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece por tua purificação, como Moisés mandou, para lhes dar testemunho.

15 Porém a sua fama se espalhava ainda mais; e ajuntavam-se muitas multidões para o ouvir, e para serem curadas de suas enfermidades. 16 Porém ele se retirava para os desertos, e ali orava.

17 E aconteceu num daqueles dias que estava ensinando, e estavam ali sentados fariseus e instrutores da lei, que tinham vindo de todas as aldeias da Galileia, da Judeia, e de Jerusalém; e o poder do Senhor estava com ele para curar

18 E eis que uns homens traziam numa cama um homem que estava paralítico; e procuravam levá-lo para dentro, a fim de o porem diante dele. 19 Como não acharam por onde pudessem levá-lo para dentro, por causa da multidão, subiram ao telhado, e pelas telhas o baixaram com o leito para o meio do povo, diante de Jesus.

20 Ele viu a fé deles, e disse: Homem, teus pecados são perdoados. 21 E os escribas e os fariseus começaram a questionar, dizendo: Quem é este que fala blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão só Deus?

22 Porém Jesus, conhecendo os seus pensamentos, respondeu-lhes: O que pensais em vossos corações? 23 O que é mais fácil? Dizer: Teus pecados são perdoados? Ou dizer: Levanta-te, e anda? 24 Para que saibais que o Filho do homem tem poder sobre a terra para perdoar pecados, (disse ao paralítico:) Eu te digo, levanta-te, toma o teu leito, e vai para a tua casa.

25 E ele levantou-se imediatamente diante deles, tomou o leito em que estava deitado, e foi para a sua casa, glorificando a Deus. 26 E todos ficaram admirados, e glorificaram a Deus; e ficaram cheios de temor, dizendo: Hoje vimos maravilhas!

27 Depois destas coisas, ele saiu; e viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado na coletoria de tributos, e disse-lhe: Segue-me. 28 Ele deixou tudo, levantou-se, e o seguiu.

29 E Levi lhe fez um grande banquete em sua casa; e havia ali uma grande multidão de publicanos e de outros que estavam sentados com eles à mesa. 30 E seus fariseus e escribas murmuravam contra os seus discípulos, dizendo: Por que comeis e bebeis com cobradores de impostos e pecadores? 31 Jesus lhes respondeu: Os que estão sãos não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. 32 Eu não vim para chamar os justos, mas sim, os pecadores, ao arrependimento.

33 Então eles lhe disseram: Os discípulos de João jejuam muitas vezes, e fazem orações, como também os dos fariseus, mas os teus comem e bebem. 34 Mas Jesus lhes disse: Podeis vós fazer jejuar os convidados do casamento, enquanto o noivo está com eles? 35 Porém virão dias em que o esposo lhes será tirado; então naqueles dias jejuarão.

36 E dizia-lhes também uma parábola: Ninguém tira remendo de pano novo para pô-lo em roupa velha; de outra maneira, romperá o novo, e o remendo do novo não será adequado ao velho.

37 E ninguém põe vinho novo em odres velhos; de outra maneira, o vinho novo romperá os odres, e se derramará, e os odres são destruídos. 38 Mas o vinho novo deve ser posto em odres novos. 39 E ninguém que beber do velho quer o novo; porque diz: O velho é melhor.

6

1 E aconteceu que, no sábado, Jesus passou pelas plantações, e seus discípulos iam arrancando espigas, e comiam, debulhando-as com as mãos. 2 E alguns dos fariseus disseram: Por que fazeis o que não é lícito nos sábados?

3 E Jesus lhes respondeu: Nunca lestes isto, o que Davi fez quando teve fome, ele e os que com ele estavam? 4 Como entrou na casa de Deus, tomou, e comeu os pães da apresentação, e deu aos que estavam com ele, pães que não é lícito comer, a não ser só os sacerdotes? 5 E dizia-lhes: O Filho do homem é Senhor do sábado.

6 E aconteceu em outro sábado que entrou na sinagoga, e estava ensinado; e ali estava um homem que tinha a mão direita definhada. 7 E os escribas e fariseus o observavam, se o curaria no sábado; para acharem de que o acusar. 8 Mas ele bem sabia dos seus pensamentos; e disse ao homem que tinha a mão definhada: Levanta-te, e põe-te em pé no meio. E ele se levantou e se pôs de pé.

9 Então Jesus lhes disse: Eu vos pergunto: É lícito no sábado fazer bem, ou fazer mal? Salvar uma pessoa, ou matá-la? 10 E ele, olhando para todos em redor, disse-lhe: Estende a tua mão. E ele o fez; e a mão foi lhe restituída. 11 Então encheram-se de ira; e conversaram uns com os outros sobre o que fariam a Jesus.

12 E aconteceu que naqueles dias ele foi ao monte para orar; e passou a noite orando a Deus. 13 E quando já era dia, chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também chamou de apóstolos:

14 Simão, a quem também chamou de Pedro, e seu irmão André; Tiago, e João; Filipe, e Bartolomeu. 15 Mateus, Tomé; Tiago filho de Alfeu, e Simão chamado “o Zelote”. 16 Judas de Tiago, e Judas Iscariotes, o que foi o traidor.

17 Ele desceu com eles, parou num lugar plano, e também com ele uma grande quantidade dos seus discípulos, e grande multidão do povo de toda a Judeia, de Jerusalém, da costa marítima de Tiro, e de Sidom, 18 que tinham vindo para o ouvir, e para serem curados das suas enfermidades, como também os atormentados por espíritos imundos foram curados. 19 E toda a multidão procurava tocá-lo; porque dele saía poder, e curava a todos.

20 Ele levantou os olhos aos seus discípulos, e disse: Benditos sois vós, os pobres, porque o Reino de Deus é vosso. 21 Benditos sois vós que agora tendes fome, porque sereis saciados. Benditos sois vós que agora chorais, porque rireis.

22 Benditos sereis quando as pessoas vos odiarem, quando vos separarem, vos insultarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do homem. 23 Contentai-vos nesse dia, e saltai de alegria, porque eis que grande é a vossa recompensa nos céus; pois assim os pais deles faziam aos profetas.

24 Mas ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação. 25 Ai de vós que estais saciados, porque tereis fome. Ai de vós que agora rides, porque lamentareis, e chorareis.

26 Ai de vós quando todos falarem bem de vós; porque assim os pais deles faziam aos falsos profetas.

27 Mas a vós, que estais ouvindo, digo: amai os vossos inimigos; fazei bem aos que vos odeiam; 28 bendizei aos que vos maldizem, e orai pelos que vos maltratam.

29 Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te tirar a capa, não recuses a túnica. 30 Dá a quem te pedir; e ao que te tomar o que éteu, não o peças de volta.

31 E como vós quereis que as pessoas vos façam, fazei-lhes vós também da mesma maneira. 32 E se amardes aos que vos amam, que mérito tereis? Pois também os pecadores amam os que os amam. 33 E se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que mérito tereis? Pois também os pecadores fazem o mesmo. 34 E se emprestardes àqueles de quem esperais receber de volta, que mérito tereis? Pois também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberam de volta o tanto equivalente.

35 Em vez disso, amai aos vossos inimigos, fazei o bem, e emprestai, sem nada esperar disso; e grande será a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo; porque é benigno até para com os ingratos e maus. 36 Portanto, sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso.

37 Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; liberai, e vos liberarão.

38 Dai, e será vos dado; medida boa, comprimida, sacudida e transbordante vos darão no vosso colo; pois com a mesma medida que medirdes vos medirão de volta.

39 E disse-lhes uma parábola: Acaso pode o cego guiar outro cego? Não cairão ambos no buraco? 40 O discípulo não está acima do seu mestre; mas todo aquele que estiver completamente capacitado será como o seu mestre.

41 E por que tu prestas atenção no cisco que está no olho do teu irmão, e não enxergas a trave que está no teu próprio olho? 42 Ou como podes dizer a teu irmão: “Irmão, deixa-me tirar o cisco que está no teu olho”, se tu mesmo não prestas atenção na trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave de teu olho, e então verás bem para tirar o cisco que está no olho do teu irmão.

43 Pois não há boa árvore que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. 44 Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se tiram uvas dos abrolhos.

45 A boa pessoa tira o bem do bom tesouro do seu coração, e a pessoa má tira o mal do mau tesouro do seu coração; pois a sua boca fala daquilo que o coração tem em abundância.

46 E por que me chamais: “Senhor!”, “Senhor!”, e não fazeis o que eu digo? 47 Todo aquele que vem a mim, ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante: 48 Semelhante é ao homem que construiu uma casa, cavou, abriu bem fundo, e pôs o fundamento sobre a rocha; e quando veio a enchente, a corrente bateu com ímpeto naquela casa, e não a pôde abalar, porque estava fundada sobre a rocha.

49 Mas aquele que ouve e não pratica é semelhante ao homem que construiu uma casa sobre a terra, sem fundamento, na qual a corrente bateu com ímpeto, e logo caiu; e foi grande a queda daquela casa.

7

1 E depois de acabar todos os seus discursos aos ouvidos do povo, ele entrou em Cafarnaum.

2 E o servo de um certo centurião, a quem muito estimava, que estava doente, e a ponto de morrer. 3 E quando o centurião ouviu falar sobre Jesus, enviou-lhe uns anciãos dos judeus, rogando-lhe que viesse curar o seu servo. 4 Eles vieram a Jesus, e rogaram-lhe com urgência, dizendo: Ele é digno de lhe concederes isto, 5 porque ele ama a nossa nação, e ele mesmo construiu a nossa sinagoga.

6 Jesus foi com eles; mas quando já não estava longe da casa, o centurião lhe enviou uns amigos, dizendo-lhe: “Senhor, não te incomodes, porque não sou digno que entres abaixo do meu telhado. 7 Por isso que nem mesmo me considerei digno de vir a ti; mas diz uma palavra, e o meu servo sarará. 8 Porque também eu sou homem subordinado à autoridade, e tenho soldados sob o meu comando, e digo a este: 'Vai', e ele vai; e a outro: 'Vem', e ele vem; e a meu servo: 'Faz isto', e ele faz”.

9 Quando Jesus ouviu isso, admirou-se dele; então se virou, e disse à multidão que o seguia: Digo-vos que nem mesmo em Israel achei tanta fé. 10 E quando os que foram enviados voltaram para casa, acharam são o servo doente.

11 E aconteceu no dia seguinte, que Jesus ia a uma cidade chamada Naim, e com ele iam muitos de seus discípulos, e uma grande multidão. 12 E quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva; e com ela ia grande multidão da cidade. 13 Quando o Senhor a viu, comoveu-se de intima compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores. 14 Então se aproximou, tocou o caixão (e os que a levavam, pararam), e disse: Jovem, a ti eu digo: levanta-te. 15 E o defunto se sentou e começou a falar; e ele o entregou à sua mãe.

16 Todos se encheram de temor, e glorificavam a Deus, dizendo: “Um grande profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o seu povo!” 17 E essa sua fama correu por toda a Judeia, e por toda a região em redor.

18 E os discípulos de João lhe anunciaram essas coisas. 19 Então João chamou dois de seus discípulos, e os enviou a Jesus, dizendo: “És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?” 20 E quando aqueles homens vieram a ele, disseram: “João Batista nos enviou a ti, dizendo: 'És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?'”

21 E naquela mesma hora ele curou a muitos de enfermidades, males, e espíritos maus, e a deu vista a muitos cegos. 22 Jesus lhes respondeu: Ide, e anunciai a João as coisas que tendes visto e ouvido: que os cegos veem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e aos pobres é anunciado o Evangelho. 23 E bendito é aquele que não se ofender em mim.

24 E quando os mensageiros de João se foram, Jesus começou a dizer às multidões acerca de João: Que saístes para ver no deserto? Alguma cana sacudida pelo vento? 25 Mas que saístes para ver? Um homem vestido de roupas delicadas? Eis que os que vestem roupas delicadas e vivem no luxo estão nos palácios reais. 26 Mas que saístes para ver? Um profeta? Sim, vos digo, e muito mais que profeta.

27 Este é aquele de quem está escrito: Eis que envio o meu mensageiro adiante de tua face, o qual preparará o teu caminho diante de ti. 28 Pois eu vos digo, que dentre os nascidos de mulheres, não há profeta maior que João, o Batista; mas o menor no Reino dos céus é maior que ele.

29 E todo o povo e os cobradores de impostos ouviram, concordaram que Deus era justo, e foram batizados com o batismo de João. 30 Mas os fariseus e os estudiosos da Lei rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos, e não foram batizados por ele.

31 E o Senhor disse: “A quem, pois, compararei as pessoas desta geração? E a quem são semelhantes? 32 São semelhantes às crianças sentadas na praça, que gritam umas às outras: 'Tocamo-vos flautas, mas não dançastes; cantamos-vos lamentações, mas não chorastes'.

33 Porque veio João Batista, que não comia pão, nem bebia vinho, e dizeis: 'Ele tem demônio'; 34 Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: 'Eis um homem comilão e bebedor de vinho, amigo dos cobradores de impostos e dos pecadores'. 35 Mas a sabedoria foi considerada justa por todos os seus filhos”.

36 E um dos fariseus lhe pediu que comesse com ele; então entrou na casa do fariseu, e sentou-se à mesa. 37 E eis que uma mulher da cidade, que era pecadora, quando soube que ele estava na casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro de óleo perfumado. 38 E estando atrás, aos seus pés, chorando, começou a molhar-lhe os pés com lágrimas; e os enxugava com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés, e os ungia com o óleo perfumado.

39 E quando o fariseu que o havia convidado viu isso, falou consigo mesmo: Se ele fosse profeta, saberia quem e qual é a mulher que o toca; porque ela é pecadora. 40 E Jesus lhe respondeu: “Simão, tenho uma coisa a te dizer”; e ele disse: “Dize-a, Mestre”.

41 Jesus disse: “Certo credor tinha dois devedores. Um lhe devia quinhentas moedas de prata, e o outro cinquenta. 42 Como não tinham com que pagar, perdoou-lhes a dívida de ambos. Diz, pois, qual deles o amará mais?” 43 Simão respondeu: Tenho para mim que aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste corretamente.

44 Ele se voltou à mulher, e disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei na tua casa, e não me deste água para os pés; porém esta molhou os meus pés com lágrimas, e os enxugou com os seu cabelos da cabeça. 45 Tu não me beijaste; porém esta, desde que entrou, não parou de me beijar os pés.

46 Não ungiste a minha cabeça com óleo, porém esta ungiu os meus pés com óleo perfumado. 47 Por isso te digo, os muitos pecados dela são perdoados, porque muito amou; mas ao que pouco se perdoa, pouco ama.

48 E disse a ela: Os teus pecados são perdoados. 49 E os que estavam sentados começaram a dizer entre si: Quem é este, que até perdoa pecados? 50 E disse à mulher: A tua fé te salvou; vai em paz.

8

1 E aconteceu depois disso, que Jesus andava de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e com ele os doze, 2 e algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; 3 e Joana, a mulher de Cuza, mordomo de Herodes; e Susana, e muitas outras, que lhe serviam com seus bens.

4 E quando se ajuntou uma multidão, e vindo a ele de todas as cidades, disse por parábola: 5 Saiu um semeador a semear sua semente; e quando semeava, caiu uma parte junto ao caminho, e foi pisada, e as aves do céu a comeram. 6 E outra parte caiu sobre a pedra; e nascida, secou-se, porque não tinha umidade.

7 E outra parte caiu entre espinhos, e nascendo com ela, os espinhos a sufocaram. 8 E outra parte caiu em boa terra, e nascida, produziu fruto a cem por um. Depois que disse coisas, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

9 E os seus discípulos lhe perguntaram: Que parábola é esta? 10 Ele disse: A vós é dado conhecer os mistérios do reino de Deus; mas aos outros por parábolas, para que vendo, não vejam; e ouvindo, não entendam.

11 Esta é, pois, a parábola: a semente é a palavra de Deus. 12 Os que estão junto ao caminho são os que ouvem; depois vem o diabo, e tira-lhes do coração a palavra, para que não creiam nem se salvem. 13 E os que estão sobre a pedra são os que, quando ouvem, recebem a palavra com alegria, mas esses não têm raiz, pois creem por algum tempo, mas no tempo da tentação se desviam.

14 E o que caiu entre espinhos são os que ouviram, e indo, sufocam-se com as preocupações, e riquezas, e prazeres da vida, e não produzem bom fruto. 15 E o que caiu em boa terra, estes são os que, ouvindo a palavra, conservam-na num coração honesto e bom, e dão fruto que permanece.

16 E ninguém, quando acende uma lâmpada, cobre-a com algum vaso, ou a põe debaixo da cama; em vez disso põe na luminária, para que os que entram vejam a luz. 17 Porque não há coisa oculta que não venha a se manifestar; nem coisa escondida que não venha a ser conhecida, e chegada à luz. 18 Portanto, prestai atenção a como ouvis; pois àquele que tiver lhe será dado; e àquele que não tiver, até o que lhe parece ter, dele será tirado.

19 E vieram a ele sua mãe e seus irmãos, mas não conseguiam chegar a ele por causa da multidão. 20 E foi-lhe anunciado, dizendo: “Tua mãe e teus irmãos estão fora, e querem te ver”. 21 Porém, ele lhes respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam”.

22 E aconteceu, num daqueles dias, que Jesus entrou em um barco com seus discípulos, e disse-lhes: “Passemos para o outro lado do lago”. E partiram. 23 E enquanto navegavam, Jesus adormeceu; então desceu uma tempestade de vento no lago, e enchiam-se de água, e estavam em perigo.

24 Então se aproximaram dele e o despertaram, dizendo: “Mestre, Mestre, estamos perecendo!” E ele se levantou, repreendeu o vento e as ondas da água; e pararam, e fez-se bonança. 25 E disse-lhes: “Onde está a vossa fé?” Mas eles, temendo, admiravam-se, e diziam uns aos outros: “Quem é este, que manda até aos ventos, e à água, e lhe obedecem?”

26 E navegaram para a terra dos gadarenos, que é do lado oposto à Galileia. 27 E quando ele desceu à terra, veio da cidade ao seu encontro um homem, que havia muito tempo que tinha demônios, e não andava vestido, nem habitava em casa nenhuma, mas sim, nos sepulcros.

28 Ele viu Jesus, então exclamou, prostrou-se diante dele, e disse com grande voz: “O que eu tenho contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes.” 29 Porque ele mandava ao espírito imundo que saísse daquele homem; pois muitas vezes apoderava-se dele. E o mantinham preso com cadeias e grilhões; porém ele quebrava o que lhe prendia, e era conduzido pelo demônio aos desertos.

30 E Jesus lhe perguntou: “Qual é teu nome?” E ele disse: “Legião” (porque muitos demônios tinham entrado nele). 31 E rogavam-lhe que não os mandasse ir para o abismo.

32 E havia ali uma manada de muitos porcos, que pastavam no monte; e rogaram-lhe que lhes concedesse entrar neles; e ele lhes concedeu. 33 Os demônios saíram daquele homem e entraram nos porcos; e a manada se lançou de um precipício no lago e se afogou.

34 Quando os que cuidavam dos porcos viram o que havia acontecido, fugiram; então foram anunciar na cidade e nos campos. 35 E saíram para ver o acontecido, e vieram até Jesus; e acharam ao homem de quem os demônios tinham saído, vestido e em pleno juízo, sentado aos pés de Jesus; e temeram.

36 E os que tinham visto contaram-lhes também como aquele endemoninhado havia sido liberto. 37 E toda o povo da terra dos gadarenos ao redor lhe rogou que se retirasse deles; porque foram tomados por grande temor. Então ele entrou no barco e voltou.

38 E aquele homem, de quem os demônios tinham saído, rogou-lhe para que lhe permitisse estar com ele; mas Jesus o despediu, dizendo: 39 “Volta para tua casa, e conta como foram grandes as coisas que Deus te fez”. Ele se foi, e pregou por toda a cidade, como foram grandes as coisas que Jesus lhe tinha feito.

40 E aconteceu que, quando Jesus voltou, a multidão o recebeu; porque todos o estavam esperando. 41 E eis que chegou um homem, cujo nome era Jairo, e era chefe da sinagoga. Então ele se prostrou aos pés de Jesus e rogou-lhe que entrasse em sua casa; 42 porque tinha uma filha única, com doze anos de idade, que estava a ponto de morrer. E enquanto ele ia, as multidões o apertavam.

43 E uma mulher que tinha um fluxo de sangue, havia doze anos, e já tinha gastado todos os seus pertences com médicos, e não pôde ser curada por nenhum. 44 Ela se aproximou de Jesus por detrás, e tocou a borda de sua roupa; e logo o fluxo de seu sangue parou.

45 E Jesus disse: “Quem me tocou?” Enquanto todos negavam, disse Pedro: Mestre, as multidões te apertam e empurram! 46 Jesus disse: “Alguém me tocou, pois sei que poder saiu de mim”.

47 Então a mulher, vendo que não podia se esconder, veio tremendo, prostrou-se diante dele, e declarou-lhe diante de todo o povo a causa por que o havia tocado, e como logo havia sarado. 48 E ele lhe disse: Filha, a tua fé te sarou; vai em paz”.

49 Estando ele ainda falando, veio um da casa do chefe da sinagoga, que lhe disse: “Tua filha já está morta, não incomodes o Mestre.” 50 Porém quando Jesus o ouviu, respondeu-lhe: “Não temas; crê somente, e ela será curada”.

51 E quando entrou na casa, a ninguém deixou entrar, a não ser a Pedro, Tiago, João, e ao pai e à mãe da menina. 52 E todos choravam e lamentavam por ela; mas ele disse: “Não choreis; ela não está morta, mas dorme”. 53 E riam dele, porque sabiam que estava morta.

54 Porém ele, depois de expulsá-los todos, segurou a mão dela e clamou: “Levanta-te, menina”. 55 Então seu espírito voltou, e ela logo se levantou; e Jesus mandou que dessem de comer a ela. 56 E seus pais ficaram maravilhados, mas ele lhes mandou que a ninguém dissessem o que havia acontecido.

9

1 Jesus convocou seus doze discípulos, e lhes deu poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curarem enfermidades. 2 E os enviou para pregar o reino de Deus e para curar os enfermos.

3 E disse-lhes: “Não tomeis nada convosco para o caminho: nem vara, nem bolsa, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas cada um. 4 E em qualquer casa que entrardes, ficai ali, e dali saí.

5 E a todo os que não vos receberem, quando sairdes daquela cidade, sacudi até o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles”. 6 Então eles partiram, e percorreram todas as aldeias, anunciando o Evangelho, e curando em todos os lugares.

7 E o tetrarca Herodes ouvia falar todas as coisas que ele fazia; e estava perplexo, porque alguns diziam que João tinha ressuscitado dos mortos; 8 e outros, que Elias havia aparecido; e outros, que algum profeta dos antigos havia ressuscitado. 9 E Herodes disse: “A João mandei degolar; quem, pois, é este, de quem tais coisas ouço?” E procurava vê-lo.

10 E quando os apóstolos, voltaram, contaram a Jesus todas as coisas que tinham feito. Então ele os tomou consigo, e retirou-se à parte a um lugar deserto de uma cidade chamada Betsaida. 11 E quando as multidões souberam, seguiram-no. Ele as recebeu, e lhes falava do Reino de Deus, e curava aos que precisavam de cura.

12 E o dia já começava a declinar. Então os doze se aproximaram dele, e lhe disseram: “Despede a multidão, para irem aos lugares e aldeias ao redor, se agasalhem, e achem o que comer; porque aqui estamos em lugar deserto”. 13 Mas ele lhes disse: “Dai-lhes vós de comer”. E eles disseram: “Não temos mais que cinco pães e dois peixes; a não ser se formos nós mesmos comprar de comer para todo este povo”. 14 Porque havia ali quase cinco mil homens. Então disse aos seus discípulos: “Fazei-os se sentarem em grupos de cinquenta em cinquenta”.

15 E assim procederam, fazendo todos se sentarem. 16 Então ele tomou os cinco pães e os dois peixes e, olhando para o céu, abençoou-os e partiu-os, e os deu a seus discípulos, para os porem diante da multidão. 17 E todos comeram, e saciaram-se; e levantaram doze cestos de pedaços que sobraram.

18 E aconteceu que, quando ele estava orando só, e seus discípulos estavam com ele, que ele lhes perguntou: “Quem as multidões dizem que eu sou?” 19 E eles responderam: “Uns, João Batista; outros, Elias; e outros, que algum dos profetas antigos ressuscitou”.

20 E disse-lhes: “E vós, quem dizeis que eu sou?” E Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”. 21 Então ele os alertou, e mandou-lhes que não dissessem a ninguém, 22 dizendo: “É necessário que o Filho do homem sofra muitas coisas; que seja rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes, e pelos escribas; que seja morto, e que seja ressuscitado ao terceiro dia”.

23 E dizia a todos: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia sua cruz, e siga- me. 24 Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; porém quem, por minha causa, perder a sua vida, esse a salvará. 25 Porque, que aproveita para alguém ganhar o mundo todo, e perder ou prejudicar a si mesmo?

26 Pois quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, dele o Filho do homem se envergonhará, quando vier na sua glória, e na do Pai, e dos santos anjos. 27 E em verdade vos digo que, dentre os que aqui estão, há alguns que não experimentarão a morte, até que vejam o Reino de Deus”.

28 E aconteceu que, quase oito dias depois dessas palavras, ele tomou consigo a Pedro, João, e a Jacó, e subiu ao monte para orar. 29 E ele, enquanto estava orando, a aparência do seu rosto se transfigurou, e sua roupa ficou branca e brilhante.

30 E eis que estavam falando com ele dois homens, que eram Moisés e Elias, 31 os quais apareceram com glória, e falavam de sua partida, que estava para se cumprir em Jerusalém.

32 Pedro e os que estavam com ele estavam cheios de sono; e quando despertaram, viram a glória dele, e aqueles dois homens que estavam com ele. 33 E aconteceu que, quando eles estavam saíndo da presença dele, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos nós aqui. Façamos três tendas, uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias”, não sabendo o que dizia.

34 E enquanto ele dizia isso, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e, quando entraram na nuvem, temeram. 35 E veio uma voz da nuvem, que dizia: “Este é o meu Filho amado; a ele ouvi”. 36 E, depois de terminada aquela voz, Jesus se encontrava só; e eles se calaram, e por aqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto.

37 E aconteceu no dia seguinte que, descendo eles do monte, uma grande multidão lhe saiu ao encontro. 38 E eis que um homem da multidão clamou: “Mestre, rogo-te que vejas a meu filho, que é o único que tenho, 39 e eis que um espírito o toma, e de repente grita, e o convulsiona até espumar, e somente sai dele quando o maltrata severamente. 40 E roguei aos teus discípulos que o exupulsassem, mas não conseguiram”.

41 E Jesus respondeu: “Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei ainda convosco, e vos suportarei? Traze aqui teu filho”. 42 E quando ainda vinha chegando, o demônio o derrubou, e o convulsionou. Porém Jesus repreendeu o espírito imundo, curou ao menino, e o devolveu ao seu pai.

43 E todos ficaram perplexos com a grandeza de Deus. E enquanto todos se maravilhavam de tudo o que Jesus fazia, disse aos seus discípulos: 44 “Ponde vós em vossos ouvidos estas palavras: que o Filho do homem será entregue nas mãos dos homens”. 45 Mas eles não entendiam essa palavra, e era-lhes encoberta, para que não a compreendessem; e temiam perguntar-lhe sobre essa palavra.

46 E levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. 47 Mas Jesus, conhecendo o pensamento de seus corações, pegou uma criança, e a pôs junto a si. 48 Então disse-lhes: “Quem receber esta criança em meu nome, a mim me recebe; e quem receber a mim, recebe o que me enviou; porque aquele que entre todos vós for o menor, esse será grande”.

49 João respondeu: “Mestre, vimos um que em teu nome expulsava os demônios, e nós o proibimos, porque não segue conosco”. 50 E Jesus lhe disse: “Não o proibais, porque quem não é contra nós, é por nós”.

51 E aconteceu que, quando completaram-se os dias em que ele viria a ser recebido no alto, ele se determinou a ir para Jerusalém. 52 E mandou mensageiros adiante de si; e eles se foram, e entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe fazerem os preparativos. 53 Mas não o receberam, porque seu rosto demonstrava que ele ia para Jerusalém.

54 Quando seus discípulos, Tiago e João, viram isso, disseram: “Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?” 55 Porém ele se virou, repreendeu-os. 56 E foram para outra aldeia.

57 E aconteceu que, enquanto eles iam pelo caminho, alguém lhe disse: “Senhor, eu te seguirei para onde quer que fores”. 58 E Jesus lhe disse: “As raposas têm tocas, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde deitar a cabeça”.

59 E disse a outro: “Segue-me”. Porém ele disse: “Senhor, deixa-me que primeiro eu vá, e eu enterre meu pai”. 60 Mas Jesus lhe disse: “Deixa os mortos enterrarem os seus próprios mortos; tu, porém, vai, e anuncia o reino de Deus”.

61 E outro também disse: “Senhor, eu te seguirei; mas deixa-me primeiro despedir dos que estão em minha casa”. 62 E Jesus lhe disse: “Ninguém que colocar a sua mão no arado e olhar para trás é apto para o reino de Deus”.

10

1 E depois disso, o Senhor ordenou ainda outros setenta, e os mandou de dois em dois adiante de sua face, para toda cidade e lugar aonde ele havia de vir. 2 E lhes dizia: “A colheita verdadeiramente é grande, mas os trabalhadores são poucos; portanto rogai ao Senhor da colheita para que ele envie trabalhadores para a sua colheita.

3 Ide; eis que eu vos mando como cordeiros no meio dos lobos. 4 Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias; e a ninguém saudeis pelo caminho.

5 E em qualquer casa que entrardes, dizei primeiro: Paz seja nesta casa. 6 E se ali houver algum filho da paz, a vossa paz repousará sobre ele; e se não, ela voltará para vós mesmos. 7 E ficai na mesma casa, comendo e bebendo do que eles vos derem; pois o trabalhador é digno do seu salário. Não vos mudeis de casa em casa.

8 E em qualquer cidade que entrardes, e vos receberem, comei do que puserem diante de vós. 9 E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: Chegado é para vós o reino de Deus.

10 Mas em qualquer cidade em que entrardes e não vos receberem, saí pelas ruas, e dizei: 11 Até o pó da vossa cidade que ficou em nós, sacudimos sobre vós; porém disto sabeis, que o reino de Deus é chegado até vós. 12 E eu vos digo, que mais tolerável será naquele dia para Sodoma, do que para aquela cidade.

13 Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e em Sidom tivessem sido feitas as maravilhas que foram feitas entre vós, há muito tempo que teriam se arrependido em saco e em cinza. 14 Portanto, para Tiro e Sidom será mais tolerável no juízo, do que para vós. 15 E tu, Cafarnaum, que pensas estar elevada ao céu, até o mundo dos mortos serás derrubada!

16 Quem vos ouve, ouve a mim; e quem vos rejeita, rejeita a mim; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou.

17 E os setenta voltaram com alegria, dizendo: Senhor, até os demônios se sujeitam a nós por teu nome. 18 E disse-lhes: Eu vi a Satanás, que caía do céu como um raio. 19 Eis que vos dou poder para pisar sobre serpentes e escorpiões, e sobre toda a força do inimigo, e nada vos fará dano nenhum. 20 Mas não vos alegreis de que os espíritos se sujeitem a vós; em vez disso, alegrai-vos por vossos nomes estarem escritos nos céus.

21 Naquela hora Jesus se alegrou em espírito, e disse: Graças te dou, o Pai, Senhor do céu e da terra; porque tu escondeste estas coisas aos sábios e instruídos, e as revelaste às crianças. Sim, Pai, porque assim lhe agradou diante de ti.

22 Todas as coisas me foram entregues pelo meu Pai; e ninguém sabe quem é o Filho, a não ser o Pai; nem quem é o Pai, a não ser o Filho, e a quem o Filho o quiser revelar.

23 E virando-se para seus discípulos, disse -lhes à parte: Bem-aventurados os olhos que veem o que vós vedes. 24 Porque vos digo, que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; o ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram.

25 E eis que um certo estudioso da Lei se levantou, tentando-o, e dizendo: Mestre, o que devo fazer para ter para herdar a vida eterna? 26 E ele lhe disse: O que está escrito na Lei? Como tu a lês? 27 E respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo teu coração, e de toda tua alma, e de todas tuas forças, e de todo teu entendimento; e amarás a teu próximo como a ti mesmo. 28 E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.

29 Mas ele, querendo se justificar, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? 30 E respondendo Jesus, disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e foi atacado por assaltantes, que também tiraram suas roupas, espancaram-no, e se foram, deixando-o meio morto.

31 E por acaso descia um certo sacerdote pelo mesmo caminho, e vendo -o, passou longe dele. 32 E semelhantemente também um levita, chegando junto a aquele lugar, veio, e vendo -o, passou longe dele

33 Porém um certo samaritano, que ia pelo caminho, veio junto a ele, e vendo-o, teve compaixão dele. 34 E chegando-se, amarrou-lhe um curativo nas feridas, pondo-lhe nelas azeite e vinho; e pondo-o sobre o animal que o transportava, levou-o para uma hospedaria, e cuidou dele. 35 E partindo-se no outro dia, tirou dois dinheiros, e os deu para o hospedeiro; e disse-lhe: Cuide dele; e tudo o que gastares a mais, eu te pagarei quando voltar.

36 Quem, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que foi atacado por assaltantes? 37 Ele disse: Aquele que agiu tendo misericórdia com ele. Então Jesus lhe disse: Vai, e faze da mesma maneira.

38 E aconteceu que eles, enquanto eles caminhavam, ele entrou em uma aldeia; e uma certa mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. 39 E esta tinha uma irmã, chamada Maria, a qual, sentando-se também aos pés de Jesus, ouvia sua palavra.

40 Marta, porém, ficava muito ocupada com muitos serviços; e ela, vindo, disse: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha para servir? Dize a ela, pois, que me ajude. 41 E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, tu és preocupada com muitas coisas, e perturbada por elas; 42 Mas somente uma coisa é necessária. E Maria escolheu a parte boa, a qual não lhe será tirada.

11

1 E aconteceu que ele estava orando em um certo lugar. Quando terminou, lhe disse um de seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como João também ensinou a seus discípulos.

2 E ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu Reino.

3 Dá-nos cada dia nosso pão diário. 4 E perdoa-nos nossos pecados, pois também perdoamos a todo aquele que nos deve. E não nos ponhas em tentação.

5 Disse-lhes também: Qual de vós que, tendo um amigo, se for a ele à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães. 6 Porque um amigo meu veio de viagem até mim, e nada tenho para lhe apresentar. 7 E ele de dentro, respondendo, disser: Não me perturbe! A porta já está fechada, e meus filhos estão comigo na cama; não posso me levantar para te dar. 8 Digo-vos, que ainda que ele não se levante para lhe dar por seu seu amigo, contudo, por sua teimosia ele se levantará, e lhe dará tudo quanto ele precisar.

9 E eu vos digo: pedi, e será vos dado; buscai, e achareis; batei, e vos será aberto. 10 Porque todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e quem bate, lhe será aberto.

11 E que pai, dentre vós, a quem o filho pedir peixe, no lugar do peixe lhe dará uma serpente? 12 Ou se também pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13 Pois se vós, sendo maus, sabeis dar bons presentes para vossos filhos, quanto mais dará vosso Pai celestial, o Espírito Santo, a aqueles que lhe pedirem?

14 E Jesus estava expulsando um demônio, e este era mudo. E aconteceu que, saindo o demônio, o mudo falou, e as multidões se maravilharam. 15 Porém alguns deles diziam: Ele expulsa aos demônios por Belzebu, príncipe dos demônios!

16 E outros, tentando -o, pediam-lhe um sinal do céu. 17 Mas ele, conhecendo seus pensamentos, disse-lhes: Todo reino dividido contra si mesmo é transformado num vazio, e a casa contra casa cai.

18 E se também Satanás está dividido contra si mesmo, como durará o seu reino? Porque dizeis: Por Belzebu ele expulsa aos demônios. 19 E se eu expulso aos demônios por Belzebu, por quem os seus filhos expulsam? Portanto eles serão vossos juízes. 20 Mas se eu expulso aos demônios pelo dedo de Deus, portanto o Reino de Deus chegou a vós.

21 Quando o valente, armado, guarda seu palácio, seus bens estão em paz. 22 Mas vindo outro mais valente que ele, e vencendo-o, toma -lhe toda sua armadura, em que confiava, e reparte seus despojos. 23 Quem não é comigo, é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha.

24 Quando o espírito imundo tem saído da pessoa, ele anda por lugares secos, buscando repouso; e não o achando, diz: Voltarei para minha casa, de onde saí. 25 E vindo, acha-a varrida e adornada. 26 Então vai, e toma consigo outros sete espíritos piores que ele, e entrando, habitam ali; e as últimas coisas de tal pessoa são piores que as primeiras.

27 E aconteceu que, dizendo ele estas coisas, uma mulher da multidão, levantando a voz, lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos que mamaste! 28 Mas ele disse: Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus, e a guardam.

29 E ajuntando as multidões, começou a dizer: Maligna é esta geração; busca sinal, mas sinal não lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas o profeta. 30 Porque como Jonas foi sinal para os ninivitas, assim também será o Filho do homem para esta geração.

31 A rainha do Sul se levantará em juízo com as pessoas desta geração, e as condenará; pois até dos fins da terra veio para ouvir a sabedoria de Salomão; e eis que mais que Salomão está aqui.

32 Os homens de Nínive se levantarão em juízo com esta geração, e a condenarão; pois com a pregação de Jonas se converteram; e eis que mais que Jonas está aqui.

33 E ninguém, acendendo a lâmpada, a põe em lugar oculto, nem debaixo da caixa, mas na luminária, para que os que entrarem vejam a luz. 34 A lâmpada do corpo é o olho. Sendo pois teu olho bom, também todo teu corpo será luminoso; porém se for mau, também todo teu corpo será tenebroso. 35 Olha pois que a luz que em ti há não sejam trevas. 36 Então se sendo teu corpo todo luminoso, não tendo parte alguma escura, ele todo será iluminado, como quando a lâmpada com seu brilho te ilumina.

37 E estando ele ainda falando, um fariseu lhe rogou que viesse para jantar com ele; e entrando, sentou-se à mesa; 38 E vendo -o o fariseu, maravilhou-se de que não tinha se lavado antes de jantar.

39 E o Senhor lhe disse: Agora vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; porém vosso interior está cheio de roubo e maldade. 40 Loucos, o que fez o exterior não fez também o interior? 41 Porém daí de esmola o que tendes; e eis que tudo vos será limpo.

42 Mais ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda hortaliça; e pelo juízo e amor de Deus passais longe. Estas coisas era necessário fazer, e não deixar as outras.

43 Ai de vós, fariseus, que amais os primeiros assentos nas sinagogas, e as saudações nas praças. 44 Ai de vós, que sois como as sepulturas disfarçadas, e as pessoas que andam sobre elas não sabem.

45 E respondendo um dos estudiosos da Lei, disse-lhe: Mestre, quando dizes isto também afrontas a nós. 46 Porém ele disse: Ai de vós também, estudiosos da Lei, que carregais as pessoas com cargas pesadas para levar, e vós mesmos nem ainda com um de vossos dedos tais cargas tocais.

47 Ai de vós, que construís os sepulcros dos profetas, e vossos pais os mataram. 48 Bem testemunhais pois, que também consentis nas obras de vossos pais; porque eles os mataram, e vós edificais seus sepulcros.

49 Portanto também diz a sabedoria de Deus: Profetas e apóstolos lhes mandarei; e deles a uns matarão, e a outros lançarão fora; 50 Para que desta geração seja requerido o sangue de todos os profetas, que foi derramado desde a fundação do mundo; 51 Desde o sangue de Abel, até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e a casa de Deus; assim vos digo, será requerido desta geração.

52 Ai de vós, estudiosos da Lei, que tomastes a chave do conhecimento; vós mesmos não entrastes, e impedistes aos que estavam entrando.

53 E dizendo-lhes estas coisas, os escribas e os fariseus começaram a apertá-lo fortemente, e tentar lhe fazer falar de muitas coisas, 54 armando-lhe ciladas, e procurando caçar alguma coisa de sua boca, para o poderem acusar.

12

1 Juntando-se, entretanto, muitos milhares da multidão, tanto que se atropelavam uns aos outros, começou a dizer primeiramente a seus discípulos: Guardai-vos do fermento dos fariseus, que é hipocrisia.

2 E nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto que não haja de ser sabido. 3 Portanto tudo o que dissestes nas trevas, será ouvido na luz; e o que falastes ao ouvido nos quartos, será pregado sobre os telhados.

4 E digo-vos, amigos meus, não temais aos que matam o corpo, e depois não têm mais o que possam fazer. 5 Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei a aquele, que depois de matar, também tem poder para lançar no inferno; sim, a este temei.

6 Não se vendem cinco passarinhos por duas pequenas moedas? E nem um deles está esquecido diante de Deus. 7 E até os cabelos de vossa cabeça estão todos contados; não temais, pois; mais valeis vós que muitos passarinhos.

8 E vos digo que todo aquele que me confessar diante dos seres humanos, também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus. 9 Mas quem me negar diante dos seres humanos será negado diante dos anjos de Deus. 10 E a todo aquele que disser alguma palavra contra o Filho do homem, lhe será perdoado, mas ao que blasfemar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado.

11 E quando vos trouxerem às sinagogas, aos magistrados e autoridades, não estejais ansiosos, como, ou que, em vossa defesa deveis dizer, ou que deveis falar. 12 Porque na mesma hora o Espírito Santo vos ensinará o que deveis falar.

13 E um da multidão lhe disse: Mestre, dize a meu irmão que reparta a herança comigo. 14 Mas ele lhe disse: Homem, quem me pôs por juiz, ou repartidor sobre vós? 15 E disse-lhes: Olhai, e tomai cuidado com a ganância; porque a vida de alguém não consiste na abundância dos bens que possui.

16 E propôs-lhes uma parábola, dizendo: A terra de um homem rico tinha frutificado bem. 17 E ele questionava a si mesmo, dizendo: Que farei? Porque não tenho onde juntar meus frutos. 18 E disse: Farei isto: derrubarei meus celeiros, e construirei maiores, e ali juntarei toda esta minha colheita, e estes meus bens. 19 E direi à minha alma: Alma, muitos bens tens guardados, para muitos anos; descansa, come, bebe, alegra-te!

20 Porém Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão tua alma; e o que tens preparado, de quem será? 21 Assim é o que junta tesouros para si, mas não é rico em Deus.

22 E disse a seus discípulos: Portanto vos digo, não estejais ansiosos por vossa vida, que comereis; nem pelo corpo, que vestireis. 23 Mais é a vida que o alimento, e mais o corpo que o vestido.

24 Considerai os corvos, que nem semeiam, nem ceifam; nem tem armazém, nem celeiro; e Deus os alimenta. 25 E quem de vós pode, com sua ansiedade, acrescentar um côvado à sua altura? 26 Pois, se não podeis nem mesmo com algo pequeno, por que estais ansiosos com o resto?

27 Considerai os lírios, como crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos, que nem mesmo Salomão, em toda sua glória, chegou a se vestir como um deles. 28 E se assim Deus veste a erva, que hoje está no campo, e amanhá é lançada no forno, quanto mais vestirá a vós, homens de pouca fé?

29 Vós, pois, não pergunteis que comereis, ou que bebereis; e não andeis preocupados. 30 Porque todas estas coisas, os gentios do mundo as buscam; mas vosso Pai sabe que necessitais destas coisas.

31 Mas buscai o Reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. 32 Não temas, ó pequeno rebanho; porque vosso Pai se agradou de dar a vós o Reino.

33 Vendei o que tendes, e daí esmola. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca se deprecia; onde ladrão não chega, nem a traça destrói. 34 Porque aonde estiver vosso tesouro, ali estará também vosso coração.

35 Estejam devidamente vestidos vossos quadris, e acesas as lâmpadas. 36 E sede vós semelhantes às pessoas que esperam a seu senhor quando voltar do casamento; para que quando ele vier, e bater, logo possam lhe abrir.

37 Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, os achar vigiando; em verdade vos digo que ele se vestirá, e os fará se sentarem à mesa, e chegando-se, os servirá. 38 E ainda que venha à segunda vigília; e que venha a terceira vigília, e assim os achar, bem-aventurados são tais servos.

39 Isto, porém, sabei: que se o chefe da casa soubesse à que hora o ladrão viria, ele não deixaria sua casa sofrer dano. 40 Vós, pois, também estejais prontos; porque o Filho do homem virá à hora que não imaginais.

41 E Pedro lhe disse: Senhor, dizes tu esta parábola para nós, ou também para todos? 42 E o Senhor disse: Qual é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem seu senhor puser sobre seus servos, para que lhes dê alimento no tempo certo? 43 Bem-aventurado aquele servo ao qual, quando seu senhor vier, o achar fazendo assim. 44 Em verdade vos digo, que o porá sobre todos os seus bens.

45 Mas se aquele servo disser em seu coração: Meu senhor está demorando para vir; e começar a espancar aos servos e servas, e a comer, e a beber, e a se embebedar, 46 Virá o senhor daquele servo, no dia em que ele não espera, e na hora que ele não sabe; e será partido em dois, e porá sua porção com os incrédulos.

47 E o servo que sabia a vontade de seu senhor, e não se preparou, nem fez conforme a sua vontade, será muito espancado. 48 Mas o que não sabia, e fez coisas dignas de pancadas, será pouco espancado. E a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se confiou, muito mais lhe será exigido.

49 Eu vim para lançar fogo na terra; e o que mais posso querer, se já está aceso? 50 Porém há um batismo que tenho que ser batizado; e como me angustio até que se venha a cumprir!

51 Vós pensais que vim para dar paz à terra? Não, eu vos digo; mas antes vim para trazer divisão. 52 Porque daqui em diante cinco estarão divididos em uma casa; três contra dois, e dois contra três. 53 O pai estará dividido contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra.

54 E ele dizia também para as multidões: Quando vedes a nuvem que vem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva; E assim acontece. 55 E quando venta do sul, dizeis: Haverá calor; E assim acontece. 56 Hipócritas! Sabeis entender a aparência da terra e do céu; e como não entendeis este tempo?

57 E por que também não julgais por vós mesmos o que é justo? 58 Pois quando fores com teu adversário à autoridade, procura te livrares dele no caminho, para que ele não venha a te levar ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial de justiça, e o oficial de justiça te lance na prisão. 59 Eu te digo que não sairás dali enquanto não pagares até a última moeda.

13

1 E naquele mesmo tempo estavam ali presentes alguns, que lhe contavam dos galileus cujo sangue Pilatos tinha misturado com seus sacrifícios. 2 E respondendo Jesus, disse-lhes: Vós pensais que estes galileus foram mais pecadores, por terem sofrido estas coisas? 3 Não, eu vos digo; antes, se vós não vos arrependerdes, todos de modo semelhante perecereis.

4 Ou aqueles dezoito, sobre os quais a torre em Siloé caiu, matando-os; pensais que eram mais culpados dos que todos as pessoas que moravam em Jerusalém? 5 Não, eu vos digo; antes, se vós não vos arrependerdes, todos de modo semelhante perecereis.

6 E dizia esta parábola: Um certo homem tinha uma figueira plantada em sua vinha, e veio até ela para buscar fruto, e não achou. 7 E disse ao que cuidava da vinha: Eis que há três anos, que venho para buscar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; por que ainda ocupa inutilmente a terra?

8 E respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu a escave ao redor, e a adube; 9 E se der fruto, deixa-a ficar; se não, tu a cortarás depois.

10 E ensinava em uma das sinagogas num sábado. 11 E eis que estava ali uma mulher, que havia dezoito anos que tinha um espírito de enfermidade; e andava encurvada, e de maneira nenhuma ela podia se endireitar.

12 E Jesus vendo-a, chamou-a para si, e disse-lhe: Mulher, livre estás de tua enfermidade. 13 E pôs as mãos sobre ela, e logo ela se endireitou, e glorificava a Deus. 14 E o chefe da sinagoga, irritado por Jesus ter curado no sábado, respondendo, disse à multidão: Há seis dias em que se deve trabalhar; nestes dias, pois, vinde para ser curados, e não no dia de sábado.

15 Porém o Senhor lhe respondeu, e disse: Hipócrita, no sábado cada um de vós não desata seu boi ou jumento da manjedoura, e o leva para dar de beber? 16 E não convinha soltar desta ligadura no dia de sábado a esta mulher, que é filha de Abraão, a qual, eis que Satanás já a havia ligado há dezoito anos?

17 E ele, dizendo estas coisas, todos seus adversários ficaram envergonhados; e todo o povo se alegrava de todas as coisas gloriosas que eram feitas por ele.

18 E dizia: A que o Reino de Deus é semelhante? E a que eu o compararei? 19 Semelhante é ao grão da mostarda, que um homem, tomando-o, lançou-o em sua horta; e cresceu, e fez-se uma grande árvore, e as aves dos céus fizeram ninhos em seus ramos.

20 E disse outra vez: A que compararei o Reino de Deus? 21 Semelhante é ao fermento, que a mulher, tomando-o, o escondeu em três medidas de farinha, até tudo ficar levedado.

22 E andava de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia ensinando, e caminhando para Jerusalém. 23 E disse-lhe um: Senhor, são também poucos os que se salvam? E ele lhes disse: 24 Trabalhai para entrar pela porta estreita; porque eu vos digo, que muitos procuraram entrar, e não puderam.

25 Porque quando o chefe da casa se levantar, e fechar a porta, e se estiverdes de fora, e começardes a bater à porta, dizendo: Senhor, senhor, abre-nos! E respondendo ele, vos disser: Não vos conheço, nem sei de onde vós sois. 26 Então começareis a dizer: Em tua presença temos comido e bebido, e tens ensinado em nossas ruas. 27 E ele dirá: Digo-vos que não vos conheço, nem sei de onde vós sois; afastai-vos de mim, vós todos praticantes de injustiça.

28 Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes a Abraão, a Isaque, a Jacó, e a todos os profetas no Reino de Deus; mas vós sendo lançados fora. 29 E virão pessoas do oriente, e do ocidente, e do norte, e do sul, e se sentarão à mesa no Reino de Deus. 30 E eis que há alguns dos últimos que serão primeiros, e há alguns dos primeiros que serão últimos.

31 Naquele mesmo dia, chegaram uns fariseus, dizendo-lhe: Sai, e vai-te daqui, porque Herodes quer te matar. 32 E disse-lhes: Ide, e dizei a aquela raposa: eis que expulso demônios, e faço curas hoje e amanhã, e ao terceiro dia eu terei completado. 33 Porém é necessário que hoje, e amanhã, e no dia seguinte eu caminhe; porque um profeta não pode morrer fora de Jerusalém.

34 Jerusalém, Jerusalém, que matas aos profetas, e apedrejas aos que te são enviados: quantas vezes eu quis juntar teus filhos, como a galinha junta seus pintos debaixo de suas asas, e não quisestes? 35 Eis que vossa casa é deixada deserta para vós. E em verdade vos digo, que não me vereis até que venha o tempo em que digais: Bendito aquele que vem no nome do Senhor.

14

1 E aconteceu que, entrando ele num sábado para comer pão na casa de um dos chefes dos fariseus, eles estavam o observando. 2 E eis que um certo homem com o corpo inchado estava ali diante dele. 3 E respondendo Jesus, falou aos estudiosos da Lei, e aos fariseus, dizendo: É lícito curar no sábado?

4 Porém eles ficaram calados; e ele, tomando -o, o curou, e o despediu. 5 E ele, respondendo-lhes, disse: De qual que vós cairá o jumento, ou o boi em algum poço que, mesmo no sábado, não o tire logo? 6 E nada podiam lhe responder a estas coisas.

7 E vendo como os convidados escolhiam os primeiros assentos, disse-lhes uma parábola: 8 Quando fores convidados para o casamento de alguém, não te sentes no primeiro assento, para que não aconteça de se outro convidado mais digno que tu estiver, 9 E venha o que convidou a ti e a ele, e te diga: Dá lugar a este; E então, com vergonha, tenhas que tomar o último lugar.

10 Mas quando fores convidado, vai, e senta-te no último lugar; para que quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, sobe para este assento melhor. Então terás honra diante dos que estiverem sentados contigo à mesa. 11 Porque qualquer que exaltar a si mesmo, e aquele que humilhar a si mesmo, será exaltado.

12 E dizia também ao que tinha lhe convidado: Quando fizeres um jantar, ou uma ceia, não chames a teus amigos, nem a teus irmãos, nem a teus parentes, nem a teus vizinhos ricos, para que eles também em algum tempo não te convidem de volta, e tu sejas recompensado.

13 Mas quando fizeres convite, chama aos pobres, aleijados, mancos e cegos. 14 E serás bem-aventurado, porque não eles não têm como te recompensar; pois tu serás recompensado na ressurreição dos justos.

15 E um dos que juntamente estavam sentados à mesa, ouvindo isto, disse-lhe: Bem-aventurado aquele que comer pão no Reino de Deus. 16 Porém ele lhe disse: Um certo homem fez um grande jantar, e convidou a muitos. 17 E na hora do jantar, mandou seu servo para dizer aos convidados: Vinde, que tudo já está preparado.

18 E cada um deles todos começou a dar desculpas. O primeiro lhe disse: Comprei um campo, e tenho que ir vê-lo; peço-te desculpas. 19 E outro disse: Comprei cinco pares de bois, e vou testá-los; peço-te desculpas. 20 E outro disse: Casei-me com uma mulher, e portanto não posso vir.

21 E aquele servo, ao voltar, anunciou estas coisas a seu senhor. Então o chefe da casa, irritado, disse a seu servo: Sai depressa pelas ruas e praças da cidade, e traze aqui aos pobres, e aleijados, e mancos e cegos. 22 E o servo disse: Senhor, está feito como mandaste, e ainda há lugar.

23 E o senhor disse ao servo: Sai pelos caminhos, e trilhas, e força-os a entrar, para que minha casa se encha. 24 Porque eu vos digo, que nenhum daqueles homens que foram convidados experimentará da minha ceia.

25 E muitas multidões iam com ele; e virando-se, disse-lhes: 26 Se alguém vier a mim, e não odiar a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 27 E qualquer que não levar sua cruz, e vier após mim, não pode ser meu discípulo.

28 Porque qual de vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro para fazer as contas dos gastos, para ver se tem o suficiente para a completar? 29 Para que não aconteça que, depois de ter posto seu fundamento, e não podendo a completar, comecem a escarnecer dele todos os que o virem, 30 Dizendo: Este homem começou a construir, e não pôde terminar.

31 Ou qual rei, indo a guerra para lutar contra outro rei, não se senta primeiro para consultar, se pode ir ao encontro com dez mil soldados, vindo contra ele vinte mil? 32 Se não puder, estando o outro ainda longe, manda -lhe representantes diplomáticos, e roga pela paz. 33 Assim, portanto, qualquer de vós que não renuncia a tudo, não pode ser meu discípulo.

34 Bom é o sal; porém se o sal perder o sabor, com o que ele será temperado? 35 Nem para a terra, nem para adubo serve; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

15

1 E chegavam-se a ele todos os cobradores de impostos e pecadores para o ouvirem. 2 E os fariseus e escribas murmuravam, dizendo: Este recebe aos pecadores, e come com eles.

3 E ele lhes propôs esta parábola, dizendo: 4 Quem de vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e vai em busca da perdida, até que a encontre? 5 E encontrando-a, não a ponha sobre seus ombros, com alegria?

6 E vindo para casa, não convoque aos amigos, e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei minha ovelha perdida? 7 Digo-vos, que assim haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento.

8 Ou que mulher, tendo dez moedas de prata, se perder a uma moeda, não acende a lâmpada, e varre a casa, e busca cuidadosamente até a achar? 9 E achando -a, não chame as amigas e as vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a moeda perdida! 10 Assim vos digo, que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.

11 E disse: Um certo homem tinha dois filhos. 12 E disse o mais jovem deles ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertencem. E ele lhe repartiu os bens.

13 E depois de não muitos dias, o filho mais jovem, juntando tudo, partiu-se para uma terra distante, e ali desperdiçou seus bens, vivendo de forma irresponsável. 14 E ele, tendo já gastado tudo, houve uma grande fome naquela terra, e ele começou a sofrer necessidade.

15 E foi, se chegou a um dos cidadãos daquela terra; e este o mandou a seus campos para alimentar porcos. 16 E ele ficava com vontade de encher seu estômago com os grãos que os porcos comiam, mas ninguém as dava para ele.

17 E ele, pensando consigo mesmo, disse: Quantos empregados de meu pai tem pão em abundância, e eu aqui morro de fome! 18 Eu levantarei, e irei a meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu, e diante de ti. 19 E já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como a um de teus empregados.

20 E levantando-se, foi a seu pai. E quando ainda estava longe, o seu pai o viu, e teve compaixão dele; e correndo, caiu ao seu pescoço, e o beijou. 21 E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu, e diante de ti; e já não sou digno de ser chamado teu filho.

22 Mas o pai disse a seus servos: Trazei a melhor roupa, e o vesti; e ponde um anel em sua mão, e sandálias nos seus pés. 23 E trazei o bezerro engordado, e o matai; e comamos, e nos alegremos. 24 Porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado. E começaram a se alegrar.

25 E seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, chegou perto da casa, ouviu a música, e as danças. 26 E chamando para si um dos servos, perguntou-lhe: O que era aquilo? 27 E ele lhe disse: Teu irmão chegou; e teu pai matou o bezerro engordado, porque ele voltou são.

28 Porém ele se irritou, e não queria entrar. Então o seu pai, saindo, rogava-lhe que entrasse. 29 Mas o filho respondendo, disse ao pai: Eis que eu te sirvo há tantos anos, e nunca desobedeci tua ordem, e nunca me deste um cabrito, para que eu me alegrasse com meus amigos. 30 Porém, vindo este teu filho, que gastou teus bens com prostitutas, tu lhe mataste o bezerro engordado.

31 E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas. 32 Mas era necessário se alegrar e animar; porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha se perdido, e foi encontrado.

16

1 E dizia também a seus discípulos: Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este lhe foi acusado de fazer perder seus bens. 2 E ele, chamando-o, disse-lhe: Como ouço isto sobre ti? Presta contas de teu trabalho, porque não poderás mais ser meu mordomo.

3 E disse o mordomo para si mesmo: O que farei, agora que meu senhor está me tirando o trabalho de mordomo? Cavar eu não posso; mendigar eu tenho vergonha. 4 Eu sei o que farei, para que, quando eu for expulso do meu trabalho de mordomo, me recebam em suas casas.

5 E chamando a si a cada um dos devedores de seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves a meu senhor? 6 E ele disse: Cem medidas de azeite. E disse-lhe: Pega a tua conta, senta, e escreve logo cinquenta. 7 Depois disse a outro: E tu, quanto deves? E ele disse: Cem volumes de trigo. E disse-lhe: Toma tua conta, e escreve oitenta.

8 E aquele senhor elogiou o injusto mordomo, por ter feito prudentemente; porque os filhos deste mundo são mais prudentes do que os filhos da luz com esta geração. 9 E eu vos digo: fazei amigos para vós com as riquezas da injustiça, para que quando vos faltar, vos recebam nos tabernáculos eternos.

10 Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; e quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. 11 Pois se nas riquezas da injustiça não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras riquezas? 12 E se nas coisas dos outros não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?

13 Nenhum servo pode servir a dois senhores; porque ou irá odiar a um, e a amar ao outro; ou irá se achegar a um, e desprezar ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.

14 E os fariseus também ouviram todas estas coisas, eles que eram avarentos. E zombaram dele. 15 E disse-lhes: Vós sois os que justificais a vós mesmos diante dos seres humanos; mas Deus conhece vossos corações. Porque o que é excelente para os seres humanos é odiável diante de Deus.

16 A Lei e os profetas foram até João; desde então, o Reino de Deus é anunciado, todo homem tenta entrar nele pela força. 17 E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um traço de alguma letra da Lei.

18 Qualquer que deixa sua mulher, e casa com outra, adultera; e qualquer que se casa com a deixada pelo marido, também adultera.

19 Havia porém um certo homem rico, e vestia-se de púrpura, e de linho finíssimo, e festejava todo dia com luxo. 20 Havia também um certo mendigo, de nome Lázaro, o qual ficava deitado à sua porta cheio de feridas. 21 E desejava se satisfazer com as migalhas que caíam da mesa do rico; porém vinham também os cães, e lambiam suas feridas.

22 E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o colo de Abraão. E o rico também morreu, e foi sepultado. 23 E estando no mundo dos mortos em tormentos, ele levantou seus olhos, e viu a Abraão de longe, e a Lázaro em seu colo.

24 E ele, chamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro que molhe a ponta de seu dedo na água, e refresque a minha língua; porque estou sofrendo neste fogo.

25 Porém Abraão disse: Filho, lembra-te que em tua vida recebeste teus bens, e Lázaro do mesmo jeito recebeu males. E agora este é consolado, e tu és atormentado. 26 E, além de tudo isto, um grande abismo está posto entre nós e vós, para os que quisessem passar daqui para vós não possam; nem também os daí passarem para cá.

27 E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai. 28 Porque tenho cinco irmãos, para que lhes dê testemunho; para que também não venham para este lugar de tormento.

29 Disse-lhe Abraão: Eles têm a Moisés e aos profetas, ouçam-lhes. 30 E ele disse: Não, pai Abraão; mas se alguém dos mortos fosse até eles, eles se arrependeriam. 31 Porém Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, também não se deixariam convencer, ainda que alguém ressuscite dos mortos.

17

1 E disse aos discípulos: É impossível que não venham ofensas, mas ai daquele por quem estas ofensas vierem! 2 Melhor lhe seria que lhe atasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado no mar, do que ofender a um destes pequenos.

3 Olhai por vós. E se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; e se ele se arrepender, perdoa-lhe. 4 E se pecar contra ti sete vezes ao dia, e se sete vezes ao dia voltar a ti, dizendo: Estou arrependido. Perdoa-lhe.

5 E os apóstolos disseram ao Senhor: Acrescenta-nos fé. 6 E o Senhor disse: Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta árvore de amoras: Arranca-te daqui pelas tuas raízes, e planta-te no mar, ela vos obedeceria.

7 E qual de vós terá um servo, lavrando ou apascentando gado que, voltando do campo, logo lhe diga: Chega, e senta à mesa. 8 E não lhe diga antes: Prepara-me o jantar, e apronta-te, e serve-me, até que eu tenha comido e bebido; e depois, come e bebe tu.

9 Por acaso o senhor agradece a tal servo, porque fez o que lhe foi mandado? 10 Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.

11 E aconteceu que, indo ele para Jerusalém, passou por meio da Samaria e da Galileia. 12 E entrando em uma certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe. 13 E levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!

14 E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, enquanto eles iam, ficaram limpos. 15 E vendo um deles que estava são, voltou, glorificando a Deus a alta voz. 16 E caiu com o rosto a seus pés, agradecendo-lhe; e este era samaritano.

17 E respondendo Jesus, disse: Não foram os dez limpos? E onde estão os nove? 18 Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro? 19 E disse-lhe: Levanta-te, e vai; tua fé te salvou.

20 E perguntado pelos fariseus sobre quando o Reino de Deus viria, respondeu-lhes, e disse: O Reino de Deus não vem com aparência visível. 21 Nem dirão: Eis aqui, ou Eis ali, porque eis que o Reino de Deus está entre vós.

22 E disse aos discípulos: Dias virão, quando desejareis ver um dos dias do Filho do homem, e não o vereis. 23 E vos dirão: Eis que ele está aqui, ou Eis que ele está ali, não vades, nem sigais. 24 Porque como o relâmpago, que relampeja desde o começo do céu, e brilha até ao fim do céu, assim será também o Filho do homem em seu dia.

25 Mas é necessário primeiro sofrer muito, e ser rejeitado por esta geração. 26 E como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem. 27 Comiam, bebiam, se casavam, e se davam em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; e veio o dilúvio, e destruiu a todos.

28 Como também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló, comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam, e construíam. 29 Mas o dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu, e destruiu a todos.

30 Assim será também no dia em que o Filho do homem se manifestar. 31 Naquele dia, o que estiver no telhado, e suas ferramentas em casa, não desça para pegá-las; e o que estiver no campo, não volte para trás.

32 Lembrai-vos da mulher de Ló. 33 Qualquer que procurar salvar sua vida a perderá; e qualquer que a perder, irá salvá-la.

34 Digo-vos que naquela noite, dois estarão em uma cama; um será tomado, e o outro será deixado. 35 Duas estarão juntas moendo; uma será tomada, e a outra será deixada. 36 --- 37 E respondendo, disseram-lhe: Onde, Senhor? E ele lhes disse: Onde estiver o corpo, ali os abutres se juntarão.

18

1 E Jesus lhes disse também uma parábola sobre o dever de sempre orar, e nunca se cansar. 2 Dizendo: Havia um certo juiz em uma cidade, que não temia a Deus, nem respeitava pessoa alguma.

3 Havia também naquela mesma cidade uma certa viúva, e vinha até ele, dizendo: Faze-me justiça com meu adversário. 4 E por um certo tempo ele não quis; mas depois disto, disse para si: Ainda que eu não tema a Deus, nem respeite pessoa alguma, 5 Porém, porque esta viúva me incomoda, eu lhe farei justiça, para que ela pare de vir me chatear.

6 E disse o Senhor: Ouvi o que diz o juiz injusto. 7 E Deus não fará justiça para seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite? Demorará com eles? 8 Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Porém, quando o Filho do homem vier, por acaso ele achará fé na terra?

9 E disse também a uns, que tinham confiança de si mesmos que eram justos, e desprezavam aos outros, esta parábola: 10 Dois homens subiram ao Templo para orar, um fariseu, e o outro cobrador de impostos.

11 O fariseu, estando de pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos e adúlteros; nem sou como este cobrador de impostos. 12 Jejuo duas vezes por semana, e dou dízimo de tudo quanto possuo.

13 E o cobrador de impostos, estando em pé de longe, nem mesmo queria levantar os olhos ao céu, mas batia em seu peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador. 14 Digo-vos que este desceu mais justificado à sua casa do que aquele outro; porque qualquer que a si mesmo se exalta, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilha, será exaltado.

15 E traziam-lhe também crianças pequenas, para que as tocasse; e os discípulos, vendo, os repreendiam. 16 Mas Jesus, chamando-lhes para si, disse: Deixai as crianças virem a mim, e não as impeçais; porque das tais é o Reino de Deus. 17 Em verdade vos digo, que qualquer que não receber o Reino de Deus como criança, não entrará nele.

18 E um certo líder lhe perguntou, dizendo: Bom mestre, o que tenho que fazer para herdar a vida eterna? 19 E Jesus lhe disse: Por que me chamas de bom? Ninguém é bom, a não ser um: Deus. 20 Tu sabes os mandamentos: não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe. 21 E ele disse: Todas estas coisas tenho guardado desde minha juventude.

22 Porém Jesus, ouvindo isto, disse-lhe: Ainda uma coisa te falta: vende tudo quanto tens, e reparte-o entre os pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me. 23 Mas ele, ouvindo isto, ficou muito triste, porque era muito rico.

24 E vendo Jesus que ele tinha ficado muito triste, disse: Como é difícil os que têm muitos bens entrarem no Reino de Deus! 25 Porque é mais fácil um camelo entrar pelo olho de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.

26 E os que ouviram isto, disseram: Quem então pode se salvar? 27 E ele disse: As coisas que são impossíveis para os seres humanos são possíveis para Deus.

28 E Pedro disse: Eis que deixamos tudo, e temos te seguido. 29 E ele lhes disse: Em verdade vos digo, que há ninguém que, tenha deixado casa, ou pais, ou irmãos, ou mulher, ou filhos, 30 Que não venha a receber de volta muito mais nestes tempos, e nos tempos vindouros receba a vida eterna.

31 E tomando consigo aos doze, disse-lhes: Eis que estamos subindo a Jerusalém, e se cumprirá no Filho do homem tudo o que está escrito pelos profetas. 32 Porque ele será entregue aos gentios, e escarnecido, injuriado e cuspido. 33 E depois de açoitá-lo, o matarão; e ao terceiro dia ressuscitará.

34 E eles nada entendiam destas coisas; e esta palavra lhes era oculta; e não entendiam o que estava sendo lhes dito.

35 E aconteceu que ele, chegando perto de Jericó, estava um cego sentado junto ao caminho, mendigando. 36 E este, ouvindo a multidão passar, perguntou: O que era aquilo? 37 E disseram-lhe que Jesus Nazareno estava passando.

38 Então clamou, dizendo: Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim! 39 E os que estavam mais a frente o repreendiam, para que calasse; porém ele clamava ainda mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!

40 Então Jesus, parando, mandou que o trouxessem para si; e chegando ele, perguntou-lhe, 41 Dizendo: Que queres que eu te faça? E ele disse: Senhor, que eu veja.

42 E Jesus lhe disse: Vê, tua fé te salvou. 43 E logo ele viu, e o seguia, glorificando a Deus. E o todo o povo, vendo isto, dava louvores a Deus.

19

1 E Jesus entrou e foi passando por Jericó. 2 E eis que havia ali um homem, chamado pelo nome de Zaqueu, e este era chefe dos cobradores de impostos, e era rico.

3 E procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era pequeno de altura. 4 E correndo com antecedência, subiu em uma árvore de frutos que parecem figos, para o ver; porque ele passaria por ali.

5 E quando Jesus chegou a aquele lugar, olhando para cima, o viu, e disse-lhe: Zaqueu, apressa-te, e desce; porque hoje é necessário que eu fique em tua casa. 6 E apressando-se, desceu, e o recebeu com alegria. 7 E todos, vendo isto, murmuravam, dizendo: Ele entrou para se hospedar com um homem pecador.

8 E Zaqueu, levantando-se, disse ao Senhor: Senhor, eis que dou a metade de meus bens aos pobres; e se eu consegui algo enganando a alguém, eu o devolvo quatro vezes mais. 9 E Jesus lhe disse: Hoje houve salvação nesta casa, porque ele também é filho de Abraão. 10 Porque o Filho do homem veio para buscar, e para salvar o que tinha se perdido.

11 E ouvindo eles estas coisas, Jesus prosseguiu, e disse uma parábola, porque estava perto de Jerusalém, e pensavam que logo o Reino seria manifesto. 12 Disse, pois: Um certo homem nobre partiu para uma terra distante.

13 E chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas, e disse-lhes: Investi até que eu venha; 14 E seus cidadãos o odiavam; e mandaram representantes depois dele, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós. 15 E aconteceu que, quando ele voltou, tendo tomado o reino, disse que lhe chamassem a aqueles servos, a quem tinha dado o dinheiro, para saber o que cada um tinha ganho fazendo investimentos.

16 E veio o primeiro, dizendo: Senhor, tua mina rendeu outras dez minas. 17 E ele lhe disse: Ótimo, bom servo! Por teres sido fiel no pouco, terás autoridade sobre dez cidades.

18 E veio o segundo, dizendo: Senhor, tua mina rendeu cinco minas. 19 E disse também a este: E tu governarás cinco cidades.

20 E veio outro, dizendo: Eis aqui tua mina, que guardei em um lenço. 21 Porque tive medo de ti, que és um homem rigoroso, que tomas o que não puseste, e colhes o que não semeaste.

22 Porém ele lhe disse: Servo mau, por tua boca eu te julgarei; tu sabias que eu era um homem rigoroso, que tomo o que não pus, e que colho o que não semeei; 23 Por que, então, não puseste meu dinheiro no banco; e quando eu viesse, o receberia de volta com juros?

24 E disse aos que estavam com ele: Tirai-lhe a mina, e dai-a ao que tem as dez minas. 25 E eles lhe disseram: Senhor, ele já tem dez minas.

26 O senhor respondeu: Porque eu vos digo, que todo aquele que tiver, lhe será dado; mas ao que não tiver, até o que tem, lhe será tirado. 27 Porém a aqueles meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei - os aqui, e matai -os diante de mim.

28 E dito isto, ele foi caminhando adiante, subindo para Jerusalém.

29 E aconteceu que, chegando perto de Betfagé, e de Betânia, ao monte chamado das Oliveiras, mandou a dois de seus discípulos, 30 Dizendo: Ide à aldeia que está em frente; onde, ao entrardes, achareis um potro atado, em que ninguém jamais se sentou; soltai-o, e trazei -o. 31 E se alguém vos perguntar: Por que o soltais? Direis assim a ele: Porque o Senhor precisa dele.

32 E indo os que tinham sido mandados, acharam como lhes disse: 33 E soltando o potro, seus donos lhe disseram: Por que soltais o potro? 34 E eles disseram: O Senhor precisa dele. 35 E o trouxeram a Jesus; e lançando suas roupas sobre o potro, puseram Jesus montado nele. 36 E indo ele andando, estendiam suas roupas pelo caminho.

37 E quando já chegava perto da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão de discípulos, com alegria começou a louvar a Deus em alta voz, por todas as maravilhas que tinham visto, 38 Dizendo: Bendito o Rei que vem em nome do Senhor; paz no céu, e glória nas alturas.

39 E alguns dos fariseus da multidão lhe disseram: Mestre, repreende a teus discípulos. 40 E respondendo ele, disse-lhes: Digo-vos, que se estes se calarem, as pedras clamariam.

41 E quando já estava chegando, viu a cidade, e chorou por causa dela, 42 Dizendo: Ah, se tu também conhecesses, pelo menos neste teu dia, aquilo que lhe traria paz! Mas agora isto está escondido de teus olhos.

43 Porque dias virão sobre ti, em que teus inimigos lhe cercarão com barricadas, e ao redor te sitiarão, e lhe pressionarão por todos os lados. 44 E derrubarão a ti, e a teus filhos; e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada.

45 E entrando no Templo, começou a expulsar a todos os que vendiam e compravam ali, 46 Dizendo-lhes: Está escrito: Minha casa é casa de oração; Mas vós a tendes feito um esconderijo de ladrões.

47 E ensinava diariamente no Templo; e os chefes dos sacerdotes, e os escribas, e os chefes do povo, procuravam matá-lo. 48 E não achavam como fazer, porque todo o povo o ouvia com muita atenção.

20

1 E aconteceu, num daqueles dias que, enquanto ele estava ensinando ao povo no Templo, e anunciando o Evangelho, vieram até ele os chefes dos sacerdotes, e os escribas com os anciãos. 2 E falaram-lhe, dizendo: Dize-nos, com que autoridade fazes estas coisas? Ou quem é o que te deu esta autoridade?

3 E respondendo ele, disse-lhes: Também eu vos perguntarei algo, e dizei-me: 4 O batismo de João era do céu, ou dos homens?

5 E eles discutiam entre si, dizendo: Se dissermos: Do céu, ele nos dirá: Por que, então, vós não o crestes? 6 E se dissermos: Dos homens, todo o povo nos apedrejará; pois estão convencidos de que João era profeta.

7 E responderam que não sabiam de onde era. 8 E Jesus lhes disse: Nem eu vos direi com que autoridade eu faço estas coisas.

9 E começou a dizer ao povo esta parábola: Um certo homem plantou uma vinha, e a arrendou a uns lavradores, e viajou para outro país por muito tempo. 10 E certo tempo depois mandou um servo aos lavradores, para que lhe dessem do fruto da vinha; mas os lavradores, espancando-o, mandaram -no sem coisa alguma.

11 E voltou a mandar outro servo; mas eles, espancando e humilhando também a ele, o mandaram sem nada. 12 E voltou a mandar ao terceiro; mas eles, ferindo também a este, o expulsaram.

13 E o senhor da vinha disse: Que farei? Mandarei a meu filho amado; talvez quando o verem, o respeitarão. 14 Mas os lavradores, vendo-o, discutiram entre si, dizendo: Este é o herdeiro; vamos matá-lo, para que a herança venha a ser nossa.

15 E expulsando-o da vinha, o mataram. O que, então, lhes fará o senhor da vinha? 16 Virá, e destruirá a estes lavradores, e dará a vinha a outros. E eles, ouvindo isto, disseram: Que isto nunca aconteça!

17 Mas Jesus, olhando para eles, disse: Por que, então, isto está escrito: A pedra que os construtores rejeitaram, essa foi posta como a principal da esquina? 18 Todo aquele que cair sobre aquela pedra, se quebrará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair, se fará pó.

19 E os chefes dos sacerdotes e os escribas queriam detê-lo naquela mesma hora, mas temiam ao povo; porque entenderam que foi contra eles que ele tinha dito a parábola. 20 E, observando-o, mandaram espiões, que fingissem ser justos, para o pegarem por meio de algo que ele dissesse, e o entregarem ao poder e autoridade do governador.

21 E perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, nós sabemos que falas e ensinas corretamente, e que não te importas com as aparências, mas na verdade tu ensinas o caminho de Deus. 22 É lícito para nós dar tributo a César, ou não?

23 E ele, entendendo a astúcia deles, disse-lhes: 24 Mostrai-me uma moeda; ela tem a imagem e a inscrição de quem? E eles, respondendo, disseram: De César.

25 Então lhes disse: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. 26 E não puderam lhe pegar em algo que ele tenha dito diante do povo; e maravilhados de sua resposta, calaram-se.

27 E chegando-se alguns dos saduceus, que negam haver a ressurreição, perguntaram-lhe, 28 Dizendo: Mestre, Moisés nos escreveu, que se o irmão de alguém morrer, tendo mulher, e morrer sem filhos, o irmão deve tomar a mulher, e gerar descendência a seu irmão.

29 Houve, pois, sete irmãos, e o primeiro tomou mulher, e morreu sem filhos. 30 E o segundo, 31 E o terceiro a tomou, e assim também os sete, e não deixaram filhos, e morreram. 32 E por fim, depois de todos, morreu também a mulher. 33 Na ressurreição, pois, ela será mulher de qual deles? Pois os sete a tiveram por mulher.

34 E respondendo Jesus, disse-lhes: Os filhos destes tempos se casam, e se dão em casamento. 35 Mas os que forem considerados dignos de alcançarem aqueles tempos futuros, e da ressurreição dos mortos, nem se casarão, nem se darão em casamento. 36 Porque já não podem mais morrer; pois são iguais aos anjos; e são filhos de Deus, pois são filhos da ressurreição.

37 E até Moisés mostrou, junto à sarça, que os mortos ressuscitam, quando ele chama ao Senhor de Deus de Abraão, e Deus de Isaque, e Deus de Jacó. 38 Ora, ele não é Deus de mortos, mas de vivos; pois todos vivem por causa dele.

39 E alguns dos escribas, respondendo, disseram: Mestre, bem disseste. 40 E não ousavam lhe perguntar mais nada.

41 E ele lhes disse: Como dizem que o Cristo é filho de Davi? 42 Pois o próprio Davi diz no livro dos Salmos: Disse o Senhor a meu Senhor: Senta-te à minha direita, 43 Até que eu ponha teus inimigos por escabelo de teus pés. 44 Se Davi o chama de Senhor, como, então, é seu filho?

45 Enquanto todo o povo estava ouvindo, ele disse a seus discípulos: 46 Tomai cuidado com os escribas, que querem andar roupas compridas, e amam as saudações nas praças, e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e os primeiros assentos nos jantares. 47 Que devoram as casas das viúvas, e fingem fazer longas orações. Estes receberão mais grave condenação.

21

1 E ele, olhando, viu os ricos lançarem suas ofertas na arca do tesouro do templo. 2 E viu também uma pobre viúva lançar ali duas pequenas moedas. 3 E disse: Em verdade vos digo, que esta pobre viúva lançou mais do que todos, 4 Porque todos aqueles outros lançaram para as ofertas de Deus daquilo que lhes sobrava; mas esta viúva, de sua pobreza, lançou todo sustento quanto tinha.

5 E alguns estavam falando do Templo, que estava adornado com formosas pedras e ofertas. Então Jesus disse: 6 D estas coisas que vedes, dias virão, em que não se deixará pedra sobre pedra, que não seja derrubada.

7 E perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, quando então serão essas coisas? E que sinal haverá, quando essas coisas vierem a acontecer? 8 Então ele disse: Olhai para que não vos enganem, porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo. E o tempo já está perto; portanto não os sigais. 9 E quando ouvirdes de guerras, e de rebeliões, não vos espanteis. Porque é necessário que estas coisas aconteçam primeiro; mas ainda não é o fim.

10 Então lhe disse: Então se levantará nação contra nação, e reino contra reino. 11 E haverá em vários lugares grandes terremotos e fomes, e pragas; haverá também coisas espantosas, e grandes sinais do céu.

12 Mas antes de tudo isto, eles vos impedirão e vos perseguirão, vos entregando em sinagogas e prisões, e vos trazendo diante de reis, e governadores, por causa do meu nome. 13 E isto vos acontecerá para haver testemunho.

14 Ponde, então, em vossos corações, de que não planejeis como direis em vossa defesa, 15 Porque eu vos darei boca e sabedoria, para que todos os que forem contra vós não posam vos contradizer ou resistir.

16 E vós sereis entregues até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos; e alguns de vós serão mortos. 17 E vós sereis odiados por todos por causa do meu nome. 18 Mas nem um cabelo de vossa cabeça parecerá. 19 Por vossa paciência ganhareis vossas almas.

20 Porém quando virdes a Jerusalém cercada de exércitos, sabei então, que próxima está sua desolação. 21 Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes; e os que estiverem no meio dela, saiam, e os que estiverem nos campos, não entrem nela. 22 Porque estes são dias de vingança, para que todas as coisas que estão escritas se cumpram.

23 Mas ai das grávidas, e das que amamentarem naqueles dias; porque grande calamidade haverá na terra, e ira contra este povo. 24 E cairão pela lâmina de espada, e serão levados cativos para todas as nações; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se cumpram.

25 E haverá sinais no Sol, na Lua, e nas estrelas; e na terra sofrimento entre as nações, como o rugir e agitar do mar. 26 As pessoas se enfraquecendo de medo, e da espera das coisas que virão ao mundo, porque os poderes dos céus serão abalados.

27 E então verão o Filho do homem vir em uma nuvem com grande poder e glória. 28 Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima, e levantai vossas cabeças, porque vosso resgate está perto.

29 E disse-lhes uma parábola: Olhai a figueira, e todas as árvores; 30 Quando vós vedes elas já brotando, sabeis por vós mesmos que o verão já está perto. 31 Assim também vós, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Reino de Deus já está perto.

32 Em verdade vos digo, que esta geração não passará, até que tudo aconteça. 33 O céu e a terra passarão, mas minhas palavras de maneira nenhuma passarão.

34 E olhai por vós, para que vossos corações não venham a se encher de ressaca e embriaguez, e das preocupações d esta vida; e vos venha aquele dia de surpresa. 35 Porque virá como uma armadilha sobre todos os que habitam sobre a face de toda a terra.

36 Então vigiai sempre, orando para que sejais considerados dignos de escaparem de todas as coisas que irão acontecer, e de ficarem de pé diante do Filho do homem.

37 E ensinava durante os dias no Templo, porém, às noites saía e as passava no monte, chamado as Oliveiras. 38 E todo o povo vinha até ele de manhã cedo ao templo, para o ouvir.

22

1 Estava perto a festa dos pães sem fermento, chamada de páscoa. 2 E os chefes dos sacerdotes, e os escribas procuravam um meio de o matar, pois eles temiam ao povo.

3 E Satanás entrou no Judas que era chamado Iscariotes, que era um dos doze. 4 E foi, e falou com os chefes dos sacerdotes e os oficiais, sobre como o entregaria para eles.

5 E estes se alegraram, e concordaram em lhe dar dinheiro. 6 E lhes prometeu, e buscava oportunidade para o entregar quando não houvesse uma multidão.

7 E veio o dia dos pães sem fermento, em que se devia fazer o sacrifício da páscoa. 8 E Jesus mandou a Pedro, e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos. 9 E eles lhe disseram: Onde queres que a preparemos?

10 E ele lhes disse: Eis que, quando entrardes na cidade, um homem com um vaso de água vos encontrará; segui-o até a casa onde ele entrar. 11 E direis ao dono da casa: O Mestre te diz: Onde está o salão onde comerei a páscoa com meus discípulos?

12 Então ele vos mostrará um grande salão já arrumado; preparai-a ali. 13 E indo eles, acharam como lhes tinha dito; e prepararam a páscoa.

14 E vinda a hora, sentou-se à mesa, e com ele os doze apóstolos. 15 E disse-lhes: Muito desejei comer convosco esta páscoa, antes que eu sofra. 16 Porque eu vos digo, que dela não mais comerei, até que isto se cumpra no Reino de Deus.

17 E tomando o copo, e tendo agradecido a Deus, disse: Tomai-o, e reparti -o entre vós. 18 Porque vos digo, que do fruto da videira eu não beberei, até que o Reino de Deus venha.

19 E tomando o pão, e tendo agradecido a Deus, partiu-o, e o deu a eles, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. 20 De modo semelhante também com o copo, depois da ceia, disse: Este copo é o Novo Testamento em meu sangue, que é derramado por vós.

21 Porém eis que a mão do que me trai está comigo à mesa. 22 E realmente o Filho do homem vai conforme o que está determinado; mas ai daquele homem por quem é traído! 23 E começaram a perguntar entre si, qual deles seria o que faria isto.

24 E houve também uma briga entre eles, sobre qual deles era considerado o maior. 25 E Jesus lhes disse: Os reis dos gentios os dominam, e os que exercem autoridade sobre eles são chamados de benfeitores;

26 Mas não seja assim entre vós; antes o maior de vós seja como o menor; e o que lidera, como o que serve. 27 Porque qual é maior? O que se senta à mesa, ou o que serve? Por acaso não é o que se senta à mesa? Porém eu estou entre vós como aquele que serve.

28 E vós sois os que tendes permanecido comigo em minhas tentações. 29 E eu vos determino um Reino, assim como meu pai o determinou a mim. 30 Para que em meu Reino, comais e bebais à minha mesa; e vos senteis sobre tronos, julgando as doze tribos de Israel.

31 Disse também o Senhor: Simão, Simão; eis que Satanás vos pediu, para vos peneirar como trigo; 32 Mas eu roguei por ti, que tua fé não se acabe; e quando tu te converteres, fortaleça teus irmãos.

33 E ele lhe disse: Senhor, estou preparado para ir contigo até à prisão, e à morte. 34 Mas ele disse: Pedro, eu te digo que hoje o galo não cantará, antes que me negues três vezes que me conheces.

35 E disse a eles: Quando vos mandei sem bolsa, e sem sacola, e sem sandálias, por acaso algo vos faltou? E disseram: Nada. 36 Então, ele lhes disse: Mas agora, quem tem bolsa, tome-a, como também a sacola; e o que não tem espada, venda sua roupa, e compre uma.

37 Porque eu vos digo, que ainda é necessário que se cumpra em mim aquilo que está escrito: E ele foi contado com os malfeitores. Porque aquilo que é sobre mim tem que se cumprir. 38 E eles disseram: Senhor, eis aqui duas espadas. E ele lhes disse: É o suficiente.

39 E saindo, foi, como de costume, para o monte das Oliveiras; e os seus discípulos também o seguiram. 40 E quando chegou a aquele lugar, disse-lhes: Orai para que não entreis em tentação.

41 E se afastou deles, à distância de um tiro de pedra. E pondo-se de joelhos, orava, 42 Dizendo: Pai, se tu quiseres, passa este copo de mim; porém não se faça minha vontade, mas a tua.

43 E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia. 44 E estando em angústia, orava mais intensamente. E seu suor se fez como gotas de sangue, que desciam até o chão.

45 E ele, levantando-se da oração, veio a seus discípulos, e os achou dormindo por causa da tristeza. 46 E disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos, e orai, para que não entreis em tentação.

47 E enquanto ele ainda estava falando, eis que uma multidão chegou; e um dos doze, o que se chamava Judas, ia adiante deles, e se aproximou de Jesus, para o beijar. 48 E Jesus lhe disse: Judas, com um beijo trais ao Filho do homem?

49 E os que estavam com ele, vendo o que iria acontecer, disseram-lhe: Senhor, feriremos com a espada? 50 E um deles feriu a um servo do chefe dos sacerdotes, e cortou-lhe a orelha direita. 51 E respondendo Jesus, disse: Para com isto! E tocando-lhe a orelha, o curou.

52 E disse Jesus aos chefes dos sacerdotes, e aos oficiais do Templo, e aos anciãos, que tinham vindo contra ele: Como se eu fosse ladrão, saístes com espadas e bastões? 53 Estando eu convosco todo dia no Templo, contra mim não me prendestes; mas esta é a vossa hora, e sob a autoridade das trevas.

54 E prendendo-o, o trouxeram e o puseram na casa do sumo sacerdote. E Pedro o seguia de longe. 55 E acenderam fogo no meio do pátio, e sentaram-se juntos, e Pedro se sentou entre eles.

56 E uma serva, vendo-o sentado junto ao fogo, fixando o olhos nele, disse: Este também estava com ele. 57 Porém ele o negou, dizendo: Mulher, eu não o conheço. 58 E pouco depois, outro o viu, e disse: Também tu és um deles.

59 E quando já tinha passado quase uma hora, outro afirmava, dizendo: Verdadeiramente também este estava com ele, porque também é galileu. 60 E Pedro disse: Homem, não sei o que dizes. E logo, estando ele ainda falando, cantou o galo.

61 E o Senhor, virando-se, olhou para Pedro; e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe tinha dito: Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. 62 E Pedro, saindo, chorou amargamente.

63 E os homens que tinham prendido a Jesus zombavam dele, ferindo-o; 64 E cobrindo-o, perguntavam, dizendo: Profetiza, quem é o que te feriu? 65 E diziam muitas outras coisas contra ele, insultando-o.

66 E quando já era de dia, juntaram-se os anciãos do povo, e os chefes dos sacerdotes, e os escribas, e o trouxeram ao seu conselho, 67 Dizendo Tu és o Cristo? Dize-nos. E ele lhes disse: Se eu vos disser, não o crereis. 68 E também se eu perguntar, não me respondereis, nem me soltareis.

69 A partir de agora o Filho do homem se sentará à direita do poder de Deus. 70 E todos disseram: Então tu és o Filho de Deus? E ele lhes disse: Vós dizeis que eu sou. 71 E eles disseram: Para que precisamos de mais testemunho? Pois nós mesmos o ouvimos de sua boca.

23

1 E levantando-se toda a multidão deles, o levaram a Pilatos. 2 E começaram a acusá-lo, dizendo: Encontramos este homem, que perverte a nação, e proíbe dar tributo a César, dizendo que ele mesmo é Cristo, o Rei.

3 E Pilatos lhe perguntou, dizendo: Tu és o Rei dos judeus? E respondendo, ele lhe disse: Tu o dizes. 4 E Pilatos disse aos chefes dos sacerdotes, e às multidões: Não acho culpa nenhuma neste homem. 5 Mas eles insistiam, dizendo: Ele incita ao povo, ensinando por toda a Judeia, começando desde a Galileia até aqui.

6 Então Pilatos, ouvindo falar da Galileia, perguntou se aquele homem era galileu. 7 E quando soube que era da jurisdição de Herodes, ele o entregou a Herodes, que naqueles dias também estava em Jerusalém.

8 E Herodes, ao ver Jesus, alegrou-se muito, porque havia muito tempo que desejava o ver, pois ouvia muitas coisas sobre ele; e esperava ver algum sinal feito por ele. 9 E perguntava-lhe com muitas palavras, mas ele nada lhe respondia; 10 E estavam lá os chefes dos sacerdotes, e os escribas, acusando-o com veemência.

11 E Herodes, com seus soldados, desprezando-o, e escarnecendo dele, o vestiu com uma roupa luxuosa, e o enviou de volta a Pilatos. 12 E no mesmo dia Pilatos e Herodes se fizeram amigos; porque antes tinham inimizade um contra o outro.

13 E Pilatos, convocando aos chefes dos sacerdotes, aos líderes, e ao povo, disse-lhes: 14 Vós me trouxestes a este homem, como que perverte o povo; e eis que eu, examinando-o em vossa presença, nenhuma culpa eu acho neste homem, das de que o acusais.

15 E nem também Herodes; porque a ele eu vos remeti; e eis que ele nada fez para que seja digno de morte. 16 Então eu o castigarei, e depois o soltarei. 17 ---

18 Porém todos clamavam juntos, dizendo: Tirai-o daqui! E soltai Barrabás para nós! 19 (O qual por uma rebelião feita na cidade, e por uma morte, tinha sido lançado na prisão).

20 Pilatos falou-lhes então outra vez, querendo soltar Jesus. 21 Mas eles clamavam, dizendo: Crucifica -o! crucifica-o! 22 E ele lhes disse a terceira vez: Pois que mal este fez? Nenhuma culpa de morte nele eu achei. Então eu o castigarei, e depois o soltarei.

23 Mas eles continuavam, com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E seus gritos, e os dos chefes dos sacerdotes, prevaleceram. 24 Então Pilatos julgou que se fizesse o que pediam. 25 E soltou-lhes ao que fora lançado na prisão por uma rebelião e uma morte, que era o que pediam; porém a Jesus lhes entregou à sua vontade.

26 E enquanto o levavam, tomaram a um Simão Cireneu, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para que a levasse atrás de Jesus.

27 E seguia-o uma grande multidão do povo, e de mulheres, as quais também ficavam desconsoladas, e lamentavam por ele. 28 E Jesus, virando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, mas chorai por vós mesmas, e por vossos filhos.

29 Porque eis que vêm dias em que dirão: Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que não deram a luz, e os peitos que não amamentaram. 30 Então começarão a dizer aos montes: Cai sobre nós; E aos morros: Cobri-nos! 31 Porque, se fazem isto à árvore verde, o que se fará com a árvore seca?

32 E também levaram outros dois, que eram malfeitores, para matar com ele.

33 E quando chegaram ao lugar, chamado a Caveira, o crucificaram ali, e aos malfeitores, um à direita, e outro à esquerda. 34 E Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. E, repartindo suas roupas, lançaram sortes.

35 E o povo estava olhando; e os líderes também zombavam com eles, dizendo: Salvou a outros, salve agora a si mesmo, se é o Cristo, o escolhido de Deus.

36 E os soldados também escarneciam dele, aproximando-se dele, e mostrando-lhe vinagre; 37 E dizendo: Se tu és o Rei dos judeus, salva a ti mesmo. 38 E também estava acima dele um título escrito com letras gregas, romanas e hebraicas: ESTE É O REI DOS JUDEUS.

39 E um dos malfeitores que estavam pendurados o insultava, dizendo: Se tu és o Cristo, salva a ti mesmo, e a nós. 40 Porém o outro, respondendo, repreendia-o, dizendo: Tu ainda não temes a Deus, mesmo estando na mesma condenação? 41 E nós realmente estamos sendo punidos justamente, porque estamos recebendo de volta merecidamente por aquilo que praticamos; mas este nada fez de errado.

42 E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando chegares em teu Reino. 43 E Jesus lhe disse: Em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso.

44 E era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra, até a hora nona. 45 E o sol se escureceu, e o véu do templo se rasgou ao meio.

46 E Jesus, clamando em alta voz, disse: Pai, em tuas mãos eu entrego meu espírito. E tendo dito isto, parou de respirar. 47 E o centurião, vendo o o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Verdadeiramente este homem era justo.

48 E todas as multidões que se juntavam para observar, vendo o que tinha acontecido, voltaram, batendo nos peitos. 49 E todos os seus conhecidos, e as mulheres que acompanhando -o desde a Galileia, tinham o seguido, estavam longe, vendo estas coisas.

50 E eis que um homem, de nome José, membro do conselho de justiça, sendo homem bom e justo. 51 (Que não tinha concordado, nem com o conselho, nem em atos que fizeram), da cidade de Arimateia, da terra dos judeus, e que também esperava pelo Reino de Deus.

52 Este, chegando a Pilatos, pediu o corpo de Jesus. 53 E tendo o tirado, o envolveu em um tecido de linho, e o pôs em um sepulcro, escavado em uma rocha, onde nunca ainda tinha sido posto.

54 E era o dia da preparação, e o sábado estava começando. 55 E as mulheres que vieram com ele da Galileia também o seguiram, e viram o sepulcro, e como seu corpo foi posto. 56 E elas, ao voltarem, prepararam materiais aromáticos e óleos perfumados. E descansaram o sábado, conforme o mandamento.

24

1 E no primeiro dia da semana, de madrugada bem cedo, foram ao sepulcro, levando consigo os materiais aromáticos que tinham preparado; e algumas outras junto delas. 2 E acharam a pedra já revolvida do sepulcro. 3 E entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus.

4 E aconteceu, que estando elas perplexas, eis que dois homens apareceram junto a elas, com roupas luminosas. 5 E estando elas com muito medo, e abaixando o rosto para o chão, eles lhes disseram: Por que buscam entre os mortos aquele que vive?

6 Ele não está aqui, mas já ressuscitou. Lembrai-vos de como ele vos falou, quando ainda estava na Galileia, 7 Dizendo: É necessário que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e que seja crucificado, e ressuscite ao terceiro dia.

8 E se lembraram das palavras dele. 9 E, voltando do sepulcro, anunciaram todas estas coisas aos onze, e a todos os outros. 10 E eram Maria Madalena, e Joana, e Maria mãe de Tiago, e as outras que estavam com elas, que diziam estas coisas aos apóstolos.

11 E para eles, as palavras delas pareciam não ter sentido; e não creram nelas. 12 Porém Pedro, levantando-se, correu ao sepulcro; e abaixando-se, viu os tecidos postos separadamente; e saiu maravilhado com o que tinha acontecido.

13 E eis que dois deles iam naquele mesmo dia a uma aldeia, cujo nome era Emaús, que estava a sessenta estádios de distância de Jerusalém. 14 E iam falando entre si de todas aquelas coisas que tinham acontecido.

15 E aconteceu que, enquanto eles estavam conversando entre si, e perguntando um ao outro, Jesus se aproximou, e foi junto deles. 16 Mas seus olhos foram retidos, para que não o reconhecessem.

17 E disse-lhes: Que conversas são essas, que vós discutis enquanto andam, e ficais tristes? 18 E um deles, cujo nome era Cleofas, respondendo-o, disse-lhe: És tu o único viajante em Jerusalém que não sabe as coisas que nela tem acontecido nestes dias?

19 E ele lhes disse: Quais? E eles lhe disseram: As sobre Jesus de Nazaré, a qual foi um homem profeta, poderoso em obras e em palavras, diante de Deus, e de todo o povo. 20 E como os chefes dos sacerdotes, e nossos líderes o entregaram à condenação de morte, e o crucificaram.

21 E nós esperávamos que ele fosse aquele que libertar a Israel; porém além de tudo isto, hoje é o terceiro dia desde que estas coisas aconteceram.

22 Ainda que também algumas mulheres dentre nós nos deixaram surpresos, as quais de madrugada foram ao sepulcro; 23 E não achando seu corpo, vieram, dizendo que também tinham visto uma aparição de anjos, que disseram que ele vive. 24 E alguns do que estão conosco foram ao sepulcro, e o acharam assim como as mulheres tinham dito; porém não o viram.

25 E ele lhes disse: Ó tolos, e que demoram no coração para crerem em tudo o que os profetas falaram! 26 Por acaso não era necessário que o Cristo sofresse estas coisas, e então entrar em sua glória? 27 E começando de Moisés, e por todos os profetas, lhes declarava em todas as Escrituras o que estava escrito sobre ele.

28 E chegaram à aldeia para onde estavam indo; e ele agiu como se fosse para um lugar mais distante. 29 E eles lhe rogaram, dizendo: Fica conosco, porque já é tarde, e o dia está entardecendo; E ele entrou para ficar com eles.

30 E aconteceu que, estando sentado com eles à mesa, tomou o pão, o benzeu, o partiu, e o deu a eles. 31 E os olhos deles se abriram, e o reconheceram, e ele lhes desapareceu. 32 E diziam um ao outro: Por acaso não estava nosso coração ardendo em nós, quando ele falava conosco pelo caminho, e quando nos desvendava as Escrituras?

33 E levantando-se na mesma hora, voltaram para Jerusalém, e acharam reunidos aos onze, e aos que estavam com eles, 34 Que diziam: Verdadeiramente o Senhor ressuscitou, e já apareceu a Simão. 35 E eles contaram as coisas que lhes aconteceram no caminho; e como foi reconhecido por eles quando partiu o pão.

36 E enquanto eles falavam disto, o próprio Jesus se pôs no meio deles, e lhes disse: Paz seja convosco. 37 E eles, espantados, e muito atemorizados, pensavam que viam algum espírito.

38 E ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem dúvidas em vossos corações? 39 Vede minhas mãos, e os meus pés, que sou em mesmo. Tocai-me, e vede, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vós vedes que eu tenho. 40 E dizendo isto, lhes mostrou as mãos e os pés.

41 E eles, não crendo ainda, por causa da alegria, e maravilhados, Jesus disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa para comer? 42 Então eles lhe apresentaram parte de um peixe assado. 43 Ele pegou, e comeu diante deles.

44 E disse-lhes: Estas são as palavras que eu vos disse, enquanto ainda estava convosco, que era necessário que se cumprissem todas as coisas que estão escritas sobre mim na Lei de Moisés, nos profetas, e nos Salmos.

45 Então ele lhes abriu o entendimento, para que entendessem as Escrituras. 46 E disse-lhes: Assim está escrito, que o Cristo sofresse, e que ao terceiro dia ressuscitasse dos mortos; 47 E que em seu nome fosse pregado arrependimento e perdão de pecados em todas as nações, começando de Jerusalém.

48 E destas coisas vós sois testemunhas. 49 E eis que eu envio a promessa de meu Pai sobre vós; porém ficai vós na cidade de Jerusalém, até que vos seja dado poder do alto.

50 E os levou para fora até Betânia, e levantando suas mãos, os abençoou. 51 E aconteceu que, enquanto os abençoava, ele se afastou deles, e foi conduzido para cima ao céu.

52 E eles, adorando-o, voltaram para Jerusalém com grande alegria; 53 E estavam sempre no Templo, louvando e bendizendo a Deus. Amém.